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1º Simpósio de obesidade e distúrbios metabólicos reúne centenas de profissionais de saúde e estudantes

cad 1Cerca de 400 nutricionistas, médicos, educadores físicos e estudantes se reuniram na última quarta-feira, 4 de abril, para o 1º Simpósio de Obesidade e Distúrbios Metabólicos: embasamento molecular e prática clínica promovido pelo grupo de pesquisa Imunometabolismo (IME) e coordenado pela professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, Adaliene Versiani Matos Ferreira. A abertura do evento contou com a presença da diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, professora Eliane Marina Palhares Guimarães e da Subchefe do Departamento de Nutrição, professora Márcia Regina Pereira Monteiro.

De acordo com a professora Adaliene, o objetivo do simpósio foi trazer um pouco de ciência no contexto da obesidade, discutindo a parte fisiopatológica da doença, para entender como acontece a expansão do tecido adiposo e abordagens sobre as terapêuticas nutricionais e prática de atividade física que podem ser feitas para o tratamento. “A importância desse simpósio baseia-se na transmissão do conhecimento para profissionais e estudantes conduzirem de forma mais consciente a abordagem terapêutica na obesidade”, enfatizou.

Na palestra de abertura, Adaliene falou sobre a expansão do Tecido Adiposo: quando torna-se um problema?. Ela explicou que obesidade é o excessivo acúmulo de gordura corporal que apresenta risco à saúde. “O tecido adiposo é um tipo especial de tecido conjuntivo que corresponde de 15 a 20% do peso corporal no homem e de 20 a 25% do peso corporal na mulher. São três variedades diferentes: Tecido adiposo Branco com adipócitos, contendo apenas uma gotícula lipídica, sustentado por fibras reticulares; Tecido adiposo Marrom com adipócitos com numerosas gotículas lipídicas, e muitas mitocôndrias e o Tecido adiposo Bege, com adipócitos com algumas gotículas lipídicas, e maior número de mitocôndrias quando comparado ao tecido adiposo branco”.

Sobre quando a expansão do tecido adiposo torna-se um problema, a professora explicou na obesidade a adiposidade ocorre por hiperplasia, quando acontece um aumento do número de adipócitos, e/ou hipertrofia, quando há aumento do tamanho e do volume das células. “Esse aumento do número de célula é protetor, mas o aumento no tamanho da célula, não. O balanço entre a hiperplasia e hipertrofia vai determinar o quão saudável o indivíduo vai ser mediante a expansão do tecido.”

AdalaieneOnde essa gordura é acumulada, nos tecidos adiposos visceral ou subcutâneo, também pode ser uma problema. Segundo Adaliene, aquela obesidade que acontece na região do abdômen é muito mais patológica do que a que acontece no glúteo-femoral. Sobre a inflamação crônica e a resolução do processo inflamatório, a professora explicou que todo tecido inflama como uma resposta biológica ao estresse. “Se a pessoa consegue controlar esse processo, será menos doente”.
A outra questão citada por ela, é que se a pessoa aumenta o tecido adiposo e consegue estocar a gordura naquele tecido, é extremamente vantajoso. O problema é quando começa a estocar em lugares distantes, caracterizado pelo acúmulo ectópico de gordura, como no fígado, coração, músculo e pâncreas. “Isso vai gerar uma doença, pois se começar a acumular em outros órgãos que não estavam preparados para essa sobrecarga de gordura, passa a ter uma patologia maior”, enfatizou.

Obesidade e inflamação foram discutidas pelo médico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Niels Olsen Câmara. Ele destacou sobre a importância de estudar a obesidade dentro de um contexto de Saúde Pública, pelos riscos de mortalidade e doenças crônicas associadas. Ele falou também sobre via da Dectina-1, descrita em 2017. “É uma molécula envolvida na obesidade que faz parte do processo inflamatório, era uma via para identificação, reconhecimento de fungos. Sempre acreditamos que seria apenas para microoganismos, até que há uns anos mostraram que em câncer essa via estava ativada. Fizemos uma análise de proteômica e achamos uma molécula que grudava na dectina. Agora, descrevemos ela não só como uma molécula que reconhece fungo, como também uma molécula que está envolvida na inflamação da obesidade, que em teoria não tem infecção associada”, explicou.

O professor ressaltou, ainda, que a obesidade está muito relacionada com doenças como câncer, alteração de microbiota, asma, gota, mas tem pouca relação com doenças renais. “Começamos a estudar isso e, dentre elas, o transplante de órgãos, que é importante dentro das Doenças Crônicas não Transmissíveis. Mostramos que a obesidade impacta na rejeição de transplantes. Os nossos modelos experimentais, em animal, mostram que ela piora a rejeição, faz com que ela seja mais acelerada e estimula o sistema imune a produzir citosinas específicas que acabam rejeitando o órgão transplantado mais rápido”, explicou Niels.

Obesidade: como intervir?
A professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Helen Hermana Miranda Hermsdorff, explicou que macronutrientes são os compostos que o ser humano necessita consumir, de grande importância estrutural e energética. Citou como exemplo os carboidratos, que têm função estrutural e são importante fonte de energia; o lipídio, que também é uma fonte de energia e o tipo de macronutriente com capacidade de estocagem, e a proteína, que também é essencial, que compõe as nossas enzimas, sistema imune e os tecidos de modo geral.

Sobre a relação dos macronutrientes com a obesidade, Helen disse que a ingestão em excesso, principalmente do carboidrato e lipídio, está relacionada com o aumento do acúmulo de gordura corporal que resulta na obesidade.

Ela destacou as dietas Low-fat, com baixo conteúdo em lipídio e a Low-carb, dieta com baixo conteúdo de carboidrato, mas alto conteúdo de proteína e gordura. “Em curto prazo, Low-carb parece ter maior efeito na perda de peso, resulta em maior redução de triglicerídeos e manutenção de HDL-c. A Low-fat tem efeito na manutenção de peso e resulta em maior redução de LDL-C, mas com redução de HDL-C também”, explicou.

O padrão de dieta mediterrânea, que já trabalha uma outra proporção, moderada em gordura também foi citado pela professora. Segundo ela, é uma dieta focada no consumo de azeite de oliva, amêndoas, frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais. “Baseada na premissa que indivíduos com adesão a esse padrão tiveram menor incidência de fatores de risco cardiometabólico e menor mortalidade por DCV”.

Sobre a proporção ideal, ela afirmou que não existe e que todas as diretrizes recomendam uma dieta balanceada, com uma proporção de 50 a 60% do valor calórico total da dieta em carboidratos, 20 a 30% em lipídio e 10 a 15% em proteína. “Do ponto de vista prático, é importante que o nutricionista saiba que a melhor proporção é aquela vai resultar numa melhor conduta nutricional. A melhor conduta é feita para a prescrição do paciente obeso, de modo personalizado, de acordo com o diagnóstico clínico-nutricional que será feito do paciente. Todos os aspectos como: gravidade, estado clínico metabólico, doenças e complicações apresentadas, padrão do consumo alimentar, condição econômica serão importantes para a decisão não só da prescrição em questão de calorias, mas também da proporção de macronutrientes que serão usados para o paciente”, enfatizou.

Os micronutrientes foram discutidos pela professora da USP Silvia Cozzolino. Ela afirmou que atualmente 800 milhões de pessoas permanecem cronicamente desnutridas; 159 milhões de crianças tem baixa estatura; 2 bilhões de pessoas apresentam deficiência de micronutrientes; 1.9 bilhões de pessoas tem sobrepeso e desses quase 600 milhões são obesos e que a prevalência de sobrepeso e obesidade vem aumentando em todo mundo.


silvia                                                                                        Professora Sílvia Cozzolino

Sobre a descrição de saúde, a professora explicou que é estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o meio ambiente, mantendo as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para a fase do ciclo vital. “Os fatores de risco para deficiência de micronutrientes são: dietas monótonas com baixa densidade de micronutrientes, baixa ingestão de alimentos de origem animal, baixa prevalência de aleitamento materno, baixa densidade de micronutrientes nos alimentos complementares para crianças maiores de 6 meses e aumento da demanda fisiológica na gestação e lactação”, disse.

Sílvia destacou, ainda, que para trabalhar com micronutrientes e pensar em uma suplementação ou não, é preciso encarar todos os fatos, relacionar com o indivíduo e avaliar se ele realmente tem necessidade, se aquele nutriente não vai interferir em algum medicamento de uso crônico e recomendar baseado no conhecimento científico mais atual.

Exercício físico e dieta
danusaExiste o exercício físico ideal para auxiliar no tratamento da obesidade e complicações metabólicas? A professora da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Danusa Dias Soares afirmou que existem exercícios que são mais apropriados, mas, na verdade, não há uma receita de bolo, por que cada indivíduo tem um perfil, a sua individualidade e isso deve ser respeitado no momento da prescrição do exercício. “É claro que existem diretrizes gerais, mas elas precisam ser canalizadas e adaptadas para o indivíduo”, disse.

Sobre os exercícios recomendados para auxiliar, ela citou: aeróbicos, com moderada intensidade e longa duração; intervalados de alta intensidade, que têm se mostrado eficazes também e exercícios de força, que propiciam de uma outra maneira o aumento de massa muscular que é muito importante para indivíduos obesos.

A mitocôndria como um aliado na perda de peso: papel do exercício e da dieta foi destaque da palestra do doutorando da Faculdade de Medicina da UFMG, Márcio Souza. Ele explicou que mitocôndria são organelas que temos dentro das nossas células, onde produzimos energia e queimamos gorduras.

Segundo ele, a principal função da mitocôndria é produzir energia no nosso corpo. “Obesidade é algo muito mais complexo e as pessoas tentam simplificar. Não adianta só cuidar reduzir calorias, fazer dietas e fazer exercícios para emagrecer, se não cuidar para que todo o metabolismo funcione de uma maneira completa. Garantir que todos os processos aconteçam para que tenha um pouco mais de eficiência em perder gordura”.

Reganho de peso
A professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Nathercia Percegoni, abordou sobre como monitorar o reganho de peso e evitar o "efeito sanfona". Ela destacou que é preciso tentar minimizar o reganho de peso e fazer que o indivíduo mantenha o equilíbrio orgânico e não engordar tanto. “Existe uma proposta nova de uma curva parabólica da perda de peso que tenta mostrar as fases. São várias estratégias necessárias ao longo do processo para que o indivíduo não engorde novamente, como: cuidar da diminuição do hormônio tireoidiano, não deixar cair tanto; modular o cortisol para que ele não aumente, entre outros”.

Ela ressaltou que a melhor forma de fazer o monitoramento de peso para auxiliar o paciente é que ele tenha acesso regular ao nutricionista. Além disso, criar estratégias como terapias, aprender a cozinhar, práticas de atividades físicas regular e a vigilância. “O indivíduo que tem tendência a engordar, terá isso para sempre. Então precisa ser vigilante, não existe essa de ter data para começar e terminar a dieta. Inclusive esse termo dieta vem sendo muito discutido, porque fica parecendo algo que tem data para terminar, e não é, é educação alimentar, deve ser levado para vida inteira, porque se ele tem predisposição para ganhar peso, precisa se monitorar sempre”, enfatizou.

“Após 12 horas de ricas discussões o Simpósio foi finalizado com sucesso e anunciado que o próximo ocorrerá em abril de 2019. Para acompanhar as atividades e eventos do grupo de pesquisa Imunometabolismo acessem: www.nutricaoconsciencia.com.br ou @imunometabolismo no Instagram”, finalizou Adaliene.

comissaoorg                                                                                  Comissão organizadora do evento