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Aula inaugural da Pós-Graduação em Nutrição e Saúde aborda o corpo como objeto de consumo

Verlaine

Os alunos do curso de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde participaram, nessa quinta-feira, 8 de março, da aula inaugural com o tema “O corpo como objeto de consumo”, ministrada pelo professor do Departamento de Filosofia da UFMG, Verlaine Freitas, que também contou com a participação de professores e outros alunos da UFMG.

De acordo com a coordenadora do Colegiado de Pós-graduação em Nutrição, professora Aline Cristine Souza Lopes, a aula inaugural teve por objetivos: recepcionar os novos alunos que escolheram a UFMG como Universidade para fazer a sua Pós-graduação e fomentar uma discussão bastante atual, mais reflexiva e política. “Espera-se assim, contribuir para que a Pós-graduação possa ser pensada para além da elaboração de uma dissertação, mas como a base para a formação de futuros cientistas”.

A professora também destacou que esse tema é de grande auxílio para diferentes profissionais de saúde. “Quando nós tratamos de um assunto tão atual e instigante, o corpo como objeto do consumo abordado na perspectiva de um filósofo, a ideia é que possamos pensar a nutrição e a saúde dentro de um contexto pós-moderno, contemporâneo, no qual as pessoas estão na busca de uma solução mágica para se obter um corpo perfeito. Como nós, profissionais da saúde, vamos lidar no dia a dia com esse tipo demanda? Precisamos refletir sobre isso, não podemos simplesmente atender às demandas que nos impõem sem uma reflexão crítica”.

Durante a palestra, o professor Verlaine Freitas abordou sobre o papel do corpo na sociedade de consumo, na medida em que este corpo é considerado um dos objetos a mais, no âmbito da relação com a sociedade, que sempre se prendeu a valores de toda ordem.

“Sociologicamente, o corpo é pensado como algo que nos ameaça devido à possibilidade dele afetar a nossa auto-imagem, e na medida em que nós procuramos salvar o corpo, nós salvamos a nós mesmos e a nossa auto-imagem perante a sociedade. Nesse momento, todos os elementos que configuram as possibilidades de tornar o corpo mais atraente são considerados como parte integrante desse investimento. Ele é tomado como algo que pode render felicidade e esse rendimento é cada vez mais explorado pelas tendências, pela moda e pelos diversos valores”, destacou.

Segundo o professor, para haver uma melhor comunicação entre a mente e o corpo deve-se trabalhar a reflexão sobre si mesmo, sobre aquilo que afetivamente conta como um valor próprio, como o que constitui a própria individualidade humana. “Um dos grandes problemas dessa ideia de consumir o corpo é que ele não é visto como algo íntimo na minha própria individualidade, ou seja, o meu eu não vê o corpo como um ingrediente deste complexo de comunicação entre todas as pessoas. É tornar a nossa perspectiva mais pessoal, o que nós dizemos em termos técnicos, simbolicamente estruturados, ou seja, por meio de uma reflexão simbólica sobre a individualidade, a singularidade do próprio corpo”.

134De acordo com ele, essa temática reflexiva sobre o corpo é abordada por três grandes estudiosos da sociologia: o francês Jean Baudrillard no livro, “A sociedade do consumo”; o polonês Zygmunt Bauman, em várias de suas obras; e o também francês Gilles Lipovetsky, que em seu texto chamado “A Era do Vazio”, que aborda o processo narcisista de investimento em si mesmo. “Os estudos destes três sociólogos são bem complementares. Para Bauman, o corpo é uma espécie de mediação entre o eu e o outro. Para os outros estudiosos, o corpo é um signo no qual se aderem valores que vão flutuando ao sabor das tendências, da moda, etc. Dessa forma, esse é um corpo, por assim dizer, esvaziado de condição própria, de seu valor próprio como tal, ele acaba funcionando tal qual uma calça jeans, uma gíria ou um modo de dizer. Em outras palavras, o corpo é mais um veículo de transporte de valores e de concepção de mundos, que não são ligados propriamente a sua especificidade, e muito menos a singularidade com que cada pessoa se percebe em termos da sua relação com as outras pessoas”, explicou.

Verlaine destacou, ainda, que é muito importante que os alunos da Pós-graduação em Nutrição e Saúde também tenham essa perspectiva sociológica quando estiverem fazendo seus estudos ou até mesmo trabalhando. “Costumamos dizer que as reflexões de cunho: político, filosófico, sociológico e psicanalítico são importantíssimos para a formação da consciência de cidadania, e não apenas para a nossa inserção como profissionais do mercado de trabalho. Todas as áreas que são eminentemente técnicas, como Nutrição, Engenharia, Medicina, Odontologia, entre outros, necessitam de um aporte mais reflexivo e crítico sobre o pertencimento de cada profissional, no complexo de sociedade como um todo. Por isso, precisamos sempre patrocinar e incentivar esse diálogo entre as diversas áreas de conhecimento, porque não só essas áreas técnicas têm a ganhar com as reflexões filosóficas, como também a própria filosofia, a psicanálise, a psicologia, a sociologia e a história”, finalizou Verlaine.