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Pesquisadora da Fiocruz ministra palestra sobre complexidade em estudos do ambiente alimentar

evento fiocruzNesta quarta-feira, 6 de dezembro, estudantes de Graduação, Pós-Graduação, professores e profissionais da saúde estiveram reunidos, no auditório Maria Sinno da Escola de Enfermagem da UFMG, para a palestra sobre “A complexidade no estudo do ambiente alimentar: métodos e possibilidades”, ministrada pela pesquisadora da Fiocruz do Rio de Janeiro, professora Letícia de Oliveira Cardoso. O evento foi organizado pelo Grupo de Pesquisa de Intervenções em Nutrição (GIN-UFMG), liderado pelas professoras Luana Caroline dos Santos e Aline Cristine Souza Lopes.

De acordo com a professora Aline, o trabalho do pesquisador é aprimorado mediante a exposição e compartilhamento de novas ideias, assim discutir ciência com colegas de outras universidades é essencial para a evolução acadêmica, tanto do ponto de vista do palestrante quanto dos ouvintes. “Acredito, sobretudo nesse momento que enfrentamos dificuldades tanto na ciência quanto na saúde do Brasil, que quanto mais pudermos discutir os problemas de saúde pública e buscar soluções conjuntas, melhor será para o país e para a ciência. Temos buscado essa efervescência de ideias e o debate amplo com a comunidade em geral, abrindo as portas da universidade para alunos de outras instituições e para a sociedade, visando a construção de uma ciência mais coletiva”.

A pesquisadora da Fiocruz–RJ, professora Letícia Cardoso, apresentou uma metodologia que vem trabalhando chamada: “Modelos Sistêmicos e Complexos”. Esse método, segundo ela, já tem sido usado em outras áreas do conhecimento, como Economia e Informática, e tem sido recentemente aplicado em problemas de saúde pública. A professora afirmou que a metodologia mostra uma maneira de entender mais profundamente o problema, reconhecer quais são as relações entre os fatores e identificar as limitações das intervenções. “Esse Modelo traz de novo, em comparação a outras metodologias, exatamente em reconhecermos a complexidade dos problemas de Saúde Pública. Hoje, por exemplo, eu trabalho na área de Nutrição pensando na promoção da alimentação saudável, na qual temos que identificar as dificuldades que as pessoas têm de cozinhar em casa. Pensando dessa forma complexa, sabemos que isso está relacionado ao tempo que essa pessoa tem para cozinhar, a habilidade culinária que ela tem e também as escolhas alimentares que faz na compra de alimentos. Isso tudo está relacionado a outro conjunto de fatores: se ela tem ou não filhos em casa; a quantidade de trabalhos que essa pessoa possui; quanto trabalho ela traz para casa; se divide tarefas com o parceiro ou não; se perto da casa dela tem lugar para comprar alimentos mais saudáveis; se o preço é acessível. Tudo isso é útil para identificarmos, como nutricionistas, que ajudar essa pessoa a melhorar a sua prática culinária não é suficiente dentro desse conjunto grande de fatores que interagem, pois percebemos que há outras variáveis interagindo em seu cotidiano alimentar”, explicou a pesquisadora.

Para Letícia, uma das maiores dificuldades enfrentadas por essa metodologia é o hábito do pensamento linear. “Se eu promovo atividade física e alimentação saudável, eu terei menos excesso de peso? Não necessariamente, pois existem outros fatores envolvidos. Assim, a dificuldade está em pensarmos de forma mais complexa, sistêmica, inteira, profunda e com os obstáculos interagindo entre si”, contou.

Segundo a pesquisadora, os principais benefícios que essa metodologia traz estão em reconhecer a complexidade das adversidades e explicitar, mostrar e trazer os problemas para os gestores públicos ou para os formadores de políticas de reconhecer que uma intervenção isolada não resolve problemas complexos. “Por exemplo, na área da AIDS, ou na área de implementação de alimentação saudável ou epidemia de Zika e Dengue, tomar apenas uma atitude para aquele problema não resolve. Esse é um beneficio importante que essa metodologia nos ensina”, elucidou Letícia.