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Dia do Nutricionista e 10 anos do Internato Rural de Nutrição são comemorados com atividades em Santana do Riacho e na Escola de Enfermagem

povoooO Dia do Nutricionista e os 10 anos do Internato Rural de Nutrição foram comemorados nos dias 31 de agosto e 1 de setembro no município de Santana do Riacho, um dos campos do internato rural, e na Escola de Enfermagem da UFMG, respectivamente. A professora da Universidade Federal da Fronteira Sul, Rozane Márcia Triches, foi convidada para abordar sobre agricultura familiar e alimentação escolar e sistemas produtivos, consumo alimentar e a atuação do nutricionista.

Em Santana do Riacho, o evento contou com a presença do professor José Divino Lopes, coordenador da disciplina Estágio Supervisionado em Internato Rural; do prefeito do município, André Ferreira Torres; da coordenadora do Colegiado de Graduação em Nutrição, professora Marlene Azevedo Magalhães Monteiro; da professora substituta Paula Martins Horta, nutricionistas, estudantes de nutrição, agricultores familiares, representantes da extensão rural e gestores públicos.

De acordo com o professor Divino, essa atividade realizada no município valoriza os campos de estágio como espaços não somente de prática, mas também de reflexão. “Isso fortalece nossos vínculos com o município e estabelece um projeto de continuidade, e que de fato acontece. Além disso, é uma oportunidade para que outros professores e alunos do Curso participem e conheçam o campo de estágio e as atividades que aqui são desenvolvidas”, ressaltou.


divinoEle afirmou que atualmente o Estágio Supervisionado em Internato Rural é realizado nas cidades de Conceição do Mato Dentro, Santana do Riacho, Ouro Branco e em Belo Horizonte e Ibirité. Sobre a importância do Internato Rural para a formação do aluno, o professor afirmou que observa que o aluno valoriza muito a sua presença no interior, sobretudo por uma questão de autonomia que é dada a ele, sob a supervisão dos nutricionistas locais, para lidar com os problemas que lhe são apresentados na área de nutrição. “É importante pontuar que o internato rural é um projeto tipicamente da UFMG, e do ponto de vista da universidade, isso representa não apenas um ganho na formação dos seus alunos de graduação, mas também a possibilidade da universidade fixar a sua imagem como uma instituição de ensino, pesquisa e extensão comprometida com os problemas locais do Estado”.

O prefeito de Santana do Riacho, André Torres, falou sobre a importância da experiência do Internato Rural de Nutrição para o desenvolvimento de projetos para a saúde da população deste município. “É de grande resultado, essa questão da unificação do cardápio, de trabalhar com outros municípios vizinhos e a questão da agricultura familiar, leva qualidade e saúde para dentro das escolas. Eu tenho um exemplo clássico dentro da minha casa que é o meu filho, que quando começou a estudar não gostava de comer verduras e legumes. A partir do momento em que implantou essa relação do cardápio e da agricultura familiar nas escolas, ele começou a ganhar gosto pela comida orgânica. Isso é de grande valia, porque no município nós temos um número muito grande de pessoas com problema de saúde e a comida orgânica, feita pela agricultura familiar, traz um beneficio na saúde dessa população em geral”, enfatizou.


marleneO prefeito do município, André Torres e a coordenadora do Colegiado de Graduação em Nutrição, professora Marlene Monteiro

A professora Rozane Triches ministrou a palestra “Agricultura familiar e alimentação escolar: como avançar nessa estratégia?”, com o objetivo de contextualizar as dificuldades que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem encontrado para atingir a meta mínima de 30% de alimentos da agricultura familiar na alimentação escolar, e apresentou e discutiu alternativas para superar essas dificuldades.

Rozane apresentou o cenário das compras públicas para a alimentação escolar provenientes da agricultura familiar, mostrou o contexto do Brasil, mais especificamente os estados que pesquisou: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo e abordou o que tem dificultado para as entidades executoras comprarem de agricultores familiares.

De acordo com ela, as dificuldades foram divididas em duas grandes categorias: no nível da demanda, ou seja, as dificuldades relatadas por gestores e nutricionistas, e no nível da oferta, as que são apontadas pelos produtores e agricultores familiares. “Do ponto de vista dos gestores e nutricionistas, as dificuldades foram subdivididas em: administrativas, de planejamento, burocráticas, de estrutura e também de questões pessoais. E do ponto de vista dos agricultores, nós fizemos as mesmas perguntas e subdividimos nessas mesmas categorias. Isso ajuda para termos uma base de comparação e encontrarmos as soluções”, ressaltou.

Segundo o estudo, dentre as dificuldades apontadas pelos gestores e nutricionistas, se destacam: o cardápio não está em consonância com a produção, ou seja, não há os produtos recomendados pelas nutricionistas na região; a logística por parte do agricultor ser precária, sem condições de fazer a entrega em todas as escolas; e de que os alunos preferem produtos mais industrializados a produtos orgânicos.

rozanaA professora pontuou, ainda, que, de acordo com a pesquisa, dentre as dificuldades apontadas pelos agricultores familiares, se destacam: em relação à administração, a de existir muitos alimentos que são produzidos, mas que não são demandados; em relação à logística, o fato de não ter condições de entregar os alimentos em todas as escolas; e as questões pessoais, dos agricultores não terem segurança nessa política ainda. “São várias dificuldades que impedem realmente que o agricultor se insira nesse mercado e que a prefeitura consiga atingir o mínimo de 30%”, apontou.

Para ela, as principais alternativas para superar essas dificuldades são através do diálogo e da interação entre os atores. “Se a nutricionista está elaborando um cardápio que não é adequado ao que é produzido naquele município ou região, e o agricultor e o nutricionista se encontram e discutem isso, o problema é facilmente resolvido. Ou quando o nutricionista procura a cooperativa ou a extensão rural e a extensão faz essa ponta. A mesma coisa o agricultor, se você tem o agricultor interessado, ele começa não só a vender, como também a melhorar sua qualidade de vida e sua estrutura física. Para conseguir isso tudo, às vezes é dificultado porque o agricultor não possui o conhecimento em todas essas áreas. Nós percebemos também que as capacitações fizeram muito sentido nos municípios que tiveram êxito em cumprir a meta, porque muitas coisas que eles não sabiam, começaram a saber pelas capacitações”, explicou Rozane.

A aluna do 8º período do curso de Nutrição da EEUFMG, Rafaela Cristina Vieira e Souza, está no Internato Rural em Santana do Riacho e falou que a experiência é enriquecedora para formação de novos profissionais. “Temos uma vivência muito intensa, estou gostando muito da autonomia que temos para colocar nossas idéias em prática. Já aprendi bastante nessas três semanas que estou no município”, relatou.

Comunidade acadêmica lota auditório Maria Sinno
DSC 1852No dia primeiro de setembro, a comemoração foi na Escola de Enfermagem, onde professores, nutricionistas, alunos, ex-alunos e funcionários lotaram o auditório Maria Sinno. A mesa de abertura foi composta pela coordenadora do Colegiado do Curso de Nutrição, professora Marlene Azevedo Magalhães Monteiro; chefe do Departamento de Nutrição da EEUFMG e representante da diretoria da Escola, professora Simone Cardoso Lisboa Pereira; coordenador do Internato Rural de Nutrição da UFMG, professor José Divino Lopes Filho e pela Diretora Secretária do Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região de Minas Gerais, Marina Moreno Wardi.

Neste segundo dia, a professora Rozane Triches falou sobre “Sistemas produtivos e consumo alimentar: um tema transversal de atuação do nutricionista”, com o objetivo de apresentar e discutir evidências científicas que mostram a insustentabilidade do modelo hegemônico de produção e consumo alimentar, demonstrando que o nutricionista, cujo objeto de intervenção é o alimento, cumpre papel fundamental tanto na crítica deste modelo como na proposição de alternativas sustentáveis de novos sistemas produtivos e de consumo. “É importante considerar que a formação do nutricionista tem que dialogar com outras questões que vão além da questão do nutriente, da nutrição em si, mas que destaca o alimento, a alimentação e o que está por trás disso. Muitas vezes consideramos que o consumidor tem uma certa autonomia sobre as escolhas, mas não é bem assim. Muitas vezes ele come o que está disponível para comer, se pensar em comer algo que seja mais nutritivo e adequado, que use menos agrotóxicos, nem sempre encontra disponível com preço acessível”.

Segundo ela, o sistema agroalimentar está conformado a partir de questões econômicas, sociais e que nem sempre vem ao encontro do interesse do consumidor e nem do produtor. “A ideia é fazer com que o nutricionista perceba essa complexidade do sistema agroalimentar e consiga identificar muitas vezes porque a alimentação e a nutrição não são necessariamente aquilo que gostaríamos que fossem, muito em função dessa relação do sistema que temos atualmente”, explicou a professora.

Rozane pontuou que existe um sistema agroalimentar hegemônico que distanciou o consumidor da produção de alimentos e que essa hegemonia fez com que tivessem várias consequências, uma delas foi a alimentação da população. A professora afirmou que o alimento do sistema agroalimentar hegemônico é muito mais industrializado, tem maior densidade calórica, elevado conteúdo de gorduras e de sal e contribuiu para a transição nutricional na população brasileira, notando-se crescimento na ocorrência de sobrepeso e de obesidade. “Outra consequência é sobre a relação da produção de alimentos, atualmente a agricultura está super industrializada, voltada para o agronegócio, para a monocultura, o que prejudicou o agricultor a fazer uma agricultura de subsistência, portanto, sem sobreviver no meio rural, ele migre para o meio urbano”.

DSC 1887Para a comunidade acadêmica da EEUFMG, a professora Rozane Triches abordou sistemas produtivos e consumo alimentar 

O impacto que esse sistema agroalimentar causa no ambiente também foi destacado por ela que pontuou a emissão de gases poluentes, o empobrecimento do solo, o desperdício de alimentos e o lixo produzido como questões que impactam na nossa dieta de forma negativa. “O nosso sistema agroalimentar impacta no ambiente e o ambiente impacta na nossa dieta e na nossa saúde”, elucidou Rozane.

Para a professora, o nutricionista tem o dever de combater alguns pontos desse sistema agoalimentar. “Enquanto nutricionistas, nosso papel é de formar um consumidor crítico, consciente, que saiba o que está consumindo. Outro papel do nutricionista é no sentido de pensar e atuar junto às políticas públicas ou exigir outras políticas públicas”, completou.