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Saúde dos povos indígenas pede socorro

indigenaMulheres indígenas sofrem de anemia grave enquanto crianças são vítimas de desnutrição, diarreia e calendário vacinal desatualizado. Pesquisadores discutiram na quinta-feira, 20, como mudar essa realidade, na mesa-redonda A produção do conhecimento e a saúde indígena: invisibilidade, especificidade e fragmentação, na SBPC Afro e Indígena, na  69ª Reunião Anual da SBPC.

A população indígena Brasileira abrange cerca de 900 mil pessoas, segundo o Censo 2010 do IBGE, são 305 etnias, uma população grande, mas que ainda não recebe o cuidado adequado. Segundo a Fiocruz, mais de 15% das mulheres indígenas do país são obesas e um terço deles apresenta sobrepeso. A hipertensão arterial também atinge mais de 15% delas. Para tentar reverter esses números, foram criadas políticas públicas, entre elas o Subsistema de Atenção a Saúde dos Povos Indígenas, criado em 1999, por meio da lei nº 9836. Trata-se de uma rede de serviços implantada nas terras indígenas para atender essa população, a partir de critérios geográficos, demográficos e culturais.

Superar a barreira do preconceito é o primeiro passo para solucionar esse impasse, avalia o coordenador do Grupo Temático Saúde Indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Carlos Coimbra. Para ele, as políticas públicas de promoção da saúde não conseguem levar em conta a diversidade dos povos tradicionais no Brasil. "São pelo menos 300 etnias distintas, que falam mais de 200 línguas diferentes, são aproximadamente 300 mil pessoas, praticamente em todos os estados do Brasil e que são pouco conhecidos. Os brasileiros não conhecem os indígenas dos seus próprios estados e em geral não têm interesse em conhecer quem é esse índio. É um ser invisível", enfatizou.

liviaPesquisadores discutiram como melhorar o acesso de povos indígenas à saúde. Foto: Vanessa Bugre / UFMG Educativa

A professora da Escola de Enfermagem da UFMG e coordenadora da Comissão de Acompanhamento dos Estudantes Indígenas, Lívia de Souza Errico, defende que é preciso conhecer melhor quais são as dores que acompanham os povos indígenas brasileiros. "Os problemas de saúde dos indígenas ainda não são visíveis, não são pontos de estudo, porque transferem problemas de saúde dos não índios e querem entender como esses problemas ocorrem nos povos indígenas. Esse movimento que tem de ouvir os indígenas e eles têm que falar dos seus problemas de saúde. Esse quadro muda quando a gente começa a ter estudantes indígenas formando na área de saúde. A perspectiva muda, tanto do que é a centralidade de discussão, quanto os métodos de pesquisa, de identificação e de análise desses problemas".
(Reportagem veiculada na Rádio UFMG Educativa)