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VI Simpósio do Nepircs discute qualidade assistencial fundamentada na segurança do paciente

aberturaadrianaCentenas de profissionais de saúde e estudantes estiveram reunidos nos dias 29 e 30 de junto para a VI Simpósio do Nepircs, que teve como tema central “Qualidade assistencial fundamentada na segurança do paciente”. O objetivo do evento, coordenado pela professora Adriana Oliveira, foi propiciar um fórum de discussão, divulgação, troca de experiências e interação entre os diversos profissionais da área, de modo a instrumentalizar para investigação na prática de uma assistência de qualidade, tendo como principio a prevenção e o controle de infecção na perspectiva da segurança do paciente.

A mesa de abertura contou com a presença da diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, professora Eliane Marina Palhares Guimarães, da coordenadora do NEPIRCS e do V Simpósio, professora Adriana Cristina Oliveira; da chefe do Departamento de Enfermagem Básica da EEUFMG, professora Salete Maria de Fátima Silqueira, do diretor de Vigilância em Serviços de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Anderson Macêdo Ramos; do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano Silva; do vice-presidente da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções, Marcelo Silva de Oliveira e do vice-presidente da Central dos Hospitais de Minas Gerais, Reginaldo Teófanes Ferreira de Araújo.

adrianaolivA professora Adriana destacou que este simpósio vem se tornando uma tradição junto à comunidade científica e na agenda dos profissionais de saúde dentro e fora do estado de Minas Gerais que se preocupam com a qualidade assistencial e a segurança do paciente. “Sentimos a cada edição desse evento que discutir a “Qualidade assistencial fundamentada na segurança do paciente” em seus aspectos múltiplos faz-se necessário e contínuo. E, sobretudo reafirmamos um dos papéis da Universidade Federal de Minas Gerais de sair dos seus muros e envolver-se em todas as questões e desafios que se apresentem. Nossa responsabilidade tem crescido à medida em que avançamos, seja pelos locais que o NEPIRCS conquistou, nas decisões nacionais, em propostas de legislações, representações e espaços nacional e internacional”, enfatizou.

A diretora da EEUFMG, professora Eliane Palhares, agradeceu pela presença dos conferencistas e dos participantes no evento e destacou sobre a importância dessa troca de conhecimento entre a universidade e o trabalho. “O compromisso social da universidade com a divulgação do conhecimento produzido, nos dá a oportunidade de ter uma troca de saberes, de um lado a realidade acadêmica e do outro a realidade vivenciada em cada serviço. Isso auxilia no avanço da melhoria de práticas e comportamentos seguros, que podem culminar em um bom ambiente de trabalho”.

Gláucya Lima Dau, especialista de Assuntos Científicos e Educacionais da Divisão de Prevenção de Infecção da 3M do Brasil, abordou sobre falar de limpeza segura com incorporação de novas tecnologias. Ela destacou a questão da avaliação econômica de tecnologias em saúde. “É um caminho muito discutido e estudado em muitas universidades, alguns hospitais já implementam seus núcleos de avaliação de tecnologias em saúde”, enfatizou.

Segundo Gláucya, tecnologia não é só o equipamento, pode ser um processo ou um protocolo. “Há uma gama de novas tecnologias chegando ao mercado. O olhar do gestor tem que estar muito alinhado com a evidência cientifica, com a instrução de uso do fabricante, normas em RDC, para que ele incorpore a tecnologia, ou seja, a ferramenta apropriada para aquilo que ele precisa”.

Sobre as vantagens, ela destacou que são várias, desde que tenha as instruções de uso de fabricantes sendo atendidas, as RDCs também atendendo e avaliando as evidências cientificas para que possa incorporar essas tecnologias. “As vantagens sempre culminam no desfecho que eu quero: a segurança do paciente”.

A vice-presidente da SOBECC, Ligia Calicchio afirmou que o processo de limpeza é o mais importante de todas as fases do processamento de produtos para a saúde, porque se não ocorrer a limpeza, não acontece as outras fases dos processos como desinfecção e esterilização. Segundo ela, a limpeza automatizada e manual se completam, porque nenhuma limpeza é única, antes de iniciar o processo de limpeza automatizada é necessário a pré-limpeza, assim é necessário a limpeza manual também.


sitesimposioadrianaVice-presidente da SOBECC, Ligia Calicchio

No que diz respeito aos indicadores para avaliar o processo de limpeza, ela destacou que na legislação brasileira não tem uma recomendação de periodicidade, mas recomendasse que seja feito, porque somente a inspeção visual não permite avaliar toda a eficácia da limpeza. “A legislação, seja internacional quanto nacional, recomenda que seja feita, tanto dos equipamentos utilizados pelas empresas, quanto da própria limpeza após o processo, seja ela manual ou automatizada. A legislação brasileira é a RDC nº 15 de março de 2012 da ANVISA, e as legislações internacionais nós temos as recomendações da AORN, que é a Sociedade Americana de Enfermeiros de bloco Operatório, temos a AAMI que é um órgão regulador americano também, e temos outra legislação americana ST 79 que nos orienta bastante em todo processamento de central de material”, pontuou.

gersonAinda em relação à RDC 15, o engenheiro Gerson Lucheta, doutor em Engenharia Biomédica, falou sobre a necessidade da validação de equipamentos dentro do centro de material esterilização para atender a resolução da ANVISA. De acordo com ele, esse processo de validação é bastante complexo, envolve a preparação da área, dos equipamentos, o conhecimento do processo, demanda mão de obra técnica dentro da área do conhecimento especifico para cada equipamento e a participação dos fabricantes dos equipamentos nesse contexto. “Existem equipamentos que são citados na resolução: esterilizadores, lavadoras automatizadas, seladoras, monitores biológicos e as estufas de leitura biológica. Eles são citadas na resolução, mas a princípio todo equipamento que está presente dentro desse centro de materiais tem que ser de alguma forma qualificável e demonstrado sua aptidão, capacidade de gerar resultados seguros e eficazes dentro dos centros de material e esterilização”, afirmou Gerson.

A enfermeira Assessora Técnica da Planitrade no Brasil, Carla Fonseca, destacou questões sobre os desafios da limpeza na prática clínica e em relação aos riscos de infecção pós-procedimento endoscópio, principalmente a partir de 2015, com os surtos de CRE (transmissão de Enterobactérias Resistentes a Carbapenem) que trouxe grande discussão no mundo inteiro levando a morte de inúmeros pacientes submetidos a tais procedimentos.
Segundo ela, os colonoscópios são, dentre os endoscópios, os de maior dificuldade de limpeza, e como esses surtos geraram algumas mortes, houve necessidade de uma ampla discussão para rever os conceitos que se tinham em relação às infecções relacionadas a esse tipo de procedimento, que é fundamental para diagnóstico precoce de várias doenças. “Continuar realizando as endoscopias e colonoscópias é de grande importância. Foram feitos vários estudos, inclusive de equipes aqui em Minas Gerais, com o NEPIRCS e entre todas as sociedades relacionadas a endoscopia, para que, de fato, possamos chegar ao cerne do que fazer, como limpar, porque limpar, os procedimentos operacionais padrões necessários para a limpeza adequada, e a partir daí, desenvolver todo um processo de cuidado e reavaliação constante. Quanto mais meios para checar, re-checar, são importantes para minimizar os riscos de infecções nessa área pós esses procedimentos”, explicou a enfermeira.

Cirurgias seguras salvam vidas
No segundo dia do simpósio, ocorreu a mesa-redonda sobre o tema “Cirurgias seguras salvam vidas: compartilhando experiências nacionais e internacionais” e contou com a presença dos conferencistas: Rodrigo Gomes, Guilherme Milanez, Bruno Rafael Silva, Izabella Prado Gomes e Rosilene Caldeira Santo.

O professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Rodrigo Gomes, falou sobre a implementação do checklist de verificação de procedimentos durante a cirurgia e até um pouco antes da cirurgia, para que possa garantir a segurança do paciente. “O checklist deve ser feito no sentido de proteger o paciente, assim, ele deve ser feito antes dos procedimentos, verificando todas as situações de segurança e não como um preenchimento de um documento depois do procedimento cirúrgico, como se fosse um protocolo para mostrar para uma diretoria do hospital. O enfermeiro e o cirurgião têm que estar envolvidos, precisam conversar entre eles, que é um a coisa que falta muitas vezes, a comunicação entre a equipe”.

Guilherme Milanez, infectologista do Hospital Luxemburgo, abordou sobre a visão e a participação da comissão de controle de infecção hospitalar. De acordo com ele, esse tema tem que ser trabalhado de uma forma integrada dentro das instituições de saúde, não adianta a instituição que criar um Núcleo de Segurança do Paciente e esperar que ele conduza o processo sozinho. “A construção junto com a CCIH é importante. Temos dificuldades, tem instituições grandes e pequenas, com muita gente e com pouca para trabalhar nessa prevenção de infecções relacionadas à assistência, mas temos que trabalhar até onde conseguirmos. A pessoa tem sempre que pensar o processo de trabalho dela, implementar uma ação, monitorar, avaliar aquele indicador e propor mudança. Se o profissional fizer esse ciclo continuamente, em pouco tempo vai atingir um êxito posterior”, apontou o infectologista.

Ele também destacou a importância da sensibilização, das equipes de infectologia, para não ficar meramente atendendo normas, mas sim utilizar como aliadas, usar os atores externos como fatores motivadores do processo.

DSC 1151O gestor de negócios de especialidades para produtos de limpeza na QUIMISA, Bruno Rafael Silva, explicou sobre os detergentes alcalinos e os enzimáticos e qual a química necessária para a limpeza eficaz. Segundo ele, o detergente alcalino é o que vai atuar basicamente através do tensoativo e da alcalinidade, e o detergente enzimático tem a presença do tensoativo e das enzimas, sendo esse, o comprovado através de estudos, a ferramenta adequada e ideal para o processamento de instrumentais cirúrgicos.


Bruno esclareceu que o tensoativo é a substância mais importante para todos os detergentes, porque ele que faz com que a água tenha contato com a superfície. “A água é o ingrediente principal da lavagem, mas porque não utilizá-la? Porque a água tem essa tensão superficial que é uma força que dificulta com que ela promova limpeza, por isso que você precisa do tensoativo, porque ela faz com que a água tenha afinidade com a superfície”.

Infecções e seus diferentes ciclos
Uma das questões importantes que foram destacadas durante o simpósio está relacionada com as infecções, seus diferentes ciclos e a importância de como preveni-las.
O coordenador Clínico do Centro de Terapia Intensiva do Hospital João XXIII, Frederico Bruzzi Carvalho, falou que a infecção relacionada ao cateter venoso central é uma complicação potencialmente evitável e que quando ocorre, aumenta custo, morbidade e pode causar aumento de mortalidade. “Não é uma intervenção simples e pontual que vai reduzir a taxa, principalmente se desenvolver processos de implantação do cateter, de cuidado e retirada precoce é possível reduzir e até quase zerar essa complicação, seguindo algumas orientações como: a prevenção de infecção de corrente sanguínea (ICS); a lavagem das mãos; usar solução de clorexidine ao invés de povidine para preparo da pele na passagem do CVC, sempre usar barreira total na passagem do CVC e desinfetar o hub com álcool nas manipulações”, explicou Frederico.

Fernando Malgueiro, especialista de Serviços Profissionais para a Divisão de Prevenção de Infecção da 3M do Brasil, abordou sobre a nomortemia e como ela é importante para manter a temperatura do paciente em torno de 36º C durante todo o perioperatório. “Existem diversas formas de aquecer o paciente durante esse período, as evidências mostram que o aquecimento forçado é eficaz. Independente da forma de aquecer o paciente, o primordial também e monitorizar a temperatura”, esclareceu o especialista.


MESADOFREDFernando Malgueiro, Frederico Bruzzi, Silvana Ricardo e o coordenador da mesa, Hoberdan Oliveira 

A professora Adriana Cristina Oliveira, coordenadora do NEPIRCS e do V Simpósio, fechou o ciclo de palestras falando sobre o tema “Além dos Bundles”. Segundo ela, os bundles são um pacote de medidas para a prevenção das infecções que se aplicam nas infecções cirúrgicas, infecção urinária ou a higiene de mãos. “É um conjunto de medidas que acreditamos que têm muito mais efeito, do que quando adotamos uma única medida isoladamente. E como estamos tratando das infecções nos seus diferentes ciclos, nós precisamos fazer essa reflexão da importância de como preveni-la”, apontou a professora.

Adriana enfatizou que a maior dificuldade, atualmente, é fazer com que os profissionais se sintam motivados a aderir às medidas de prevenção. “Sobre a infecção da ferida cirúrgica, o serviço precisa definir as medidas consideradas fundamentais, ou seja, que medidas o serviço têm observado que os profissionais não atentam adequadamente como deveriam, isso e o bundle, deve ser proposto de acordo com as necessidades de cada serviço. O preparo cirúrgico da mão do cirurgião, o preparo cirúrgico da pele do paciente, o uso do antibiótico na hora certa, ou até mesmo os procedimentos para a troca de curativo. Assim, propomos que cada serviço defina quais são as medidas fundamentais para ter um impacto, uma redução dessas infecções e um preparo da equipe para adotar, ter um acompanhamento, para ver se estão dando certo ou não é fundamental para se alcançar o sucesso e sustentabilidade da redução das taxas de infecção”.

De acordo com a professora, esse é um pacote de medidas proposto pelo Instituto de Melhoria de Cuidados de Saúde dos Estados Unidos e, quando bem implementado, tem funcionado e garantido a reducação das taxas de infecção em qualquer realidade até mesmo em países em desenvolvimento como no Brasil. “Alguns hospitais registram ou a redução abaixo de 50% do quantitativo inicial ou até mesmo zerar uns sítios de infecção. Outro aspecto muito importante de adoção desses bundles, é que temos que envolver os profissionais que estão na frente, na assistência. O bundle não pode ser proposto pelo CCIH, ele tem que ser proposto pelo controle de infecção, mas junto com os profissionais, porque são eles que vão adotar ou não essas medidas”, finalizou Adriana.


nepircsmembrosEquipe organizadora do evento