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Seminário aborda como reduzir o risco de eventos adversos relacionados a lesões por pressão e quedas

1 mesa seminarioAlunos dos cursos da área da saúde, enfermeiros e demais profissionais da saúde estiveram reunidos na Escola de Enfermagem da UFMG na última sexta-feira, 24 de março, para o 6º Seminário sobre Segurança na Assistência aos Pacientes Hospitalizados: Como reduzir o risco de eventos adversos relacionados a lesões por pressão e quedas? O evento foi promovido pelo Programa de Extensão Segurança na Assistência aos Pacientes Hospitalizados e coordenado pelas professoras Flávia Sampaio Latini Velasquez, Mônica Ribeiro Canhestro e Vania Regina Goveia.

De acordo com a professora Vania Goveia, foi um momento para os profissionais trocarem conhecimentos e experiências sobre segurança do paciente, abordando as diferentes metas internacionais e discutindo especialmente dois eventos adversos: lesão por pressão e lesão relacionada à queda. “É um seminário muito importante que foca na prevenção, a Enfermagem cuida do paciente 24 horas por dia, o fundamento deste trabalho é prevenir que os incidentes aconteçam, é zelar pelo paciente”, destacou.

A professora da EEUFMG Eline Lima Borges ministrou a primeira palestra que abordou lesões por pressão em pacientes hospitalizados. Segundo ela, lesão por pressão é um dano localizado na pele e/ou tecido mole subjacente geralmente sobre uma proeminência óssea ou relacionada a um dispositivo médico ou outro tipo de dispositivo. A lesão pode apresentar-se como uma pele intacta ou como uma úlcera aberta e pode ser dolorosa. “No Brasil a incidência e prevalência são advindas de estudos isolados. O problema não é verdadeiramente conhecido”. A professora explicou, ainda, que a lesão ocorre como um resultado de intensa e/ou prolongada pressão ou de pressão combinada com cisalhamento. A tolerância do tecido mole para a pressão e cisalhamento também podem ser afetada pelo microclima, nutrição, perfusão, doenças associadas e condição do tecido mole.

Sobre a questão do tratamento, prevenção e mudança de paradigma, Eline pontuou: evento adverso; custo elevado do tratamento, gasto de recursos dos serviços; associação com morbidade e mortalidade, dor e desconforto e insatisfação do clientela.

Eline seminarioProfessora Eline Borges

Para a professora, na avaliação da presença da lesão por pressão é importante ter conhecimento da situação para redução dos índices encontrados, comparação posterior e sempre pensar na melhora do indicador de qualidade. Ela destacou, ainda, os marcos de 2013 como a Portaria Nº 529 e a Resolução Nº 36. A portaria, do Ministério da Saúde, institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente com o objetivo de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional, promovendo melhorias relativas à segurança do paciente, de forma a prevenir e reduzir a incidência de eventos adversos no atendimento e internação. “Evento adverso é incidente que resulta em dano ao paciente e a lesão por pressão é considerada evento adverso”, explicou. A Resolução 36 estabelece que todos os serviços de saúde do Brasil criem o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e exige que informem mensalmente à Anvisa, de forma compulsória, todos os eventos adversos que ocorrerem dentro da instituição, o que inclui a lesão por pressão.

A lesão por pressão relacionada a dispositivo médico ocorre devido ao mau posicionamento ou fixação do equipamento; má escolha do equipamento e falha para verificar se o tubo é reposicionado corretamente quando os pacientes são movidos. “O dano tecidual pode imitar a forma do dispositivo e deteriorar-se rapidamente, por exemplo, quando localizada numa área em que existe uma falta de tecido adiposo”, explicou Eline.

A professora enfatizou, ainda, que a lesão por pressão não ocorre em pessoas saudáveis e que os pacientes com maior risco são: os imóveis, confinados à cama, cadeira de rodas; com comprometimento da percepção sensorial e com restrição mecânica, aparelho gessado, trações ortopédicas. “A prevenção de lesão por pressão é um desafio para as instituições de saúde devido aos obstáculos a serem enfrentados. Os problemas organizacionais dificultam a implementação de programas de prevenção: quadro insuficiente de profissionais, custo associado à implementação desses projetos e negociação com fontes pagadoras para cobertura das medidas preventivas”, finalizou.

Quedas em pacientes hospitalizados foi tema da palestra da da professora da Faculdade de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Janete de Souza Urbanetto. Ela definiu quedas como um evento pelo qual um indivíduo inesperadamente cai no chão ou em outro nível mais baixo, sem perda de consciência.

A professora enfatizou que as quedas são a 2ª principal causa de mortes por ferimento acidental ou intencional em todo o mundo. “A cada ano, cerca de 424 000 pessoas morrem de quedas no mundo - 80% países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Adultos com mais de 65 anos - maior número de quedas fatais. Anualmente, 37,3 milhões de quedas que são graves o suficiente para exigir atenção médica”, ressaltou.

Sobre os tipo, ela citou: Quedas Fisiológicas Antecipadas (78%) : previstas pela Morse Fall Scale (MFS); Quedas Fisiológicas Não Antecipadas (8%): convulsões, desmaios, hipotensão postural ou uma fratura patológica do quadril e Quedas Acidentais (14%): paciente escorrega, tropeça, muitas vezes causados por fatores ambientais, como a água derramada no chão.


janeteProfessora Janete  Urbanetto


No que diz respeito aos fatores de risco quedas intrínsecos, Janete destacou alterações da visão e audição, distúrbios vesiculares, nas estruturas musculoesqueléticas, marcha, força muscular; diminuição de reflexos, flexibilidade, capacidade funcional, propriocepção, sensibilidade de barorreceptores, patologias cardiorrespiratórias, metabólicas, neurológicas, demência e medicamentos diuréticos, hipotensores, vasodilatadores, nitratos, digitálicos, laxantes, opioides, hipotensores, vasodilatadores, hipnóticos, sedativos, ansiolíticos, analgésicos. Já os extrínsecos, ela afirmou que referem-se aos perigos ambientais, com inadequações de corrimão localizado ou em percursos; cama, cadeiras, dispositivos de apoio a marcha; campainha de chamada, suportes de soro; pavimento; mobiliário; vestuário e calçado.

De acordo com a professora, as consequências ou o dano da queda podem ser físico: feridas (superficiais ou profundas); hematomas/equimoses, edemas, contusões, hemorragias, fraturas, traumas cranioencefálicos, morte; psicológico: medo de cair, ansiedade, depressão, perda da autoestima, isolamento, sedentarismo, dependência e social: aumento dos custos (pessoal técnico/equipamentos/materiais/medicamentos), aumento do tempo de internação; necessidade de auxílio, por perda da autonomia.

Como Eu Faço? A experiência dos profissionais da enfermagem
No período da tarde foi realizada a tradicional mesa-redonda: “Prevenção de Lesões por Pressão e Quedas em Pacientes Hospitalizados: Como Eu Faço?”, onde cada convidado apresentou a experiência dos hospitais onde trabalha em relação à prevenção de quedas e lesões por pressão em seus pacientes. A mesa foi coordenada pela professora Vania Goveia e composta pelas enfermeiras Kehone Oliveira Miranda, Liliane Herminia de Oliveira Garbazza Pereira e Márcia Cristina de Abreu Couto.

A enfermeira Kehone Oliveira Miranda, do Hospital Universitário das Ciências Médicas de Belo Horizonte, apresentou a forma de gerenciamento de risco dentro do hospital, a evolução desde a implantação do núcleo de segurança do paciente, até as mudanças nas práticas convencionais. Ela também citou as mudanças nas taxas dos indicadores e de como serão direcionadas à segurança do paciente: “Atualmente temos a identificação do paciente desde o momento em que ele entra no hospital – com uma pulseira branca com o nome dele, o número de atendimento, a data do nascimento e o nome da mãe para evitar homônimo. E, também a identificação no leito, que além de vir com a identificação, com nome do paciente, o médico, o atendimento, tem uma forma de gerenciamento de risco com bolinhas coloridas. Cada cor respectiva a um risco que aquele paciente está submetido a partir do momento que ele internou na instituição. Fazemos o gerenciamento pelo uso de escalas, por meio disso, o enfermeiro identifica esses riscos e elabora um plano de cuidado para prevenir a ocorrência de um evento adverso".


MESA2Kehone  Miranda, Vania Goveia, Liliane  Pereira e Márcia Couto

Liliane Herminia de Oliveira Garbazza Pereira, do Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais de Belo Horizonte, aposta na educação continuada como uma das estratégias diferenciais de seu hospital. Segundo ela, o hospital tem investido muito na educação continuada; e na questão da capacitação, para que a segurança dos pacientes se torne um hábito. Ela destacou três Propostas para 2017: estimular notificação, melhorar o feedback e gerar informações que determinem ações para melhoria da qualidade.

A enfermeira do IPSEMG (Hospital Governador Israel Pinheiro), Márcia Cristina de Abreu Couto, abordou práticas que são executadas em seu hospital, em cumprimento a legislação RDC nº 36, de 25 de julho de 2013, que, resumidamente, possui a finalidade de reduzir a ocorrência de queda de pacientes hospitalizados e o dano dela decorrente, através da implementação de medidas que contemplem a avaliação de risco do paciente, garantam o cuidado multiprofissional e um ambiente seguro, e promovam a educação do paciente, familiares e profissionais. Ela apresentou algumas atividades que são desenvolvidas na instituição sobre a questão da cultura de segurança. “Para a queda usamos um sinalizador, que é o uso de uma pulseira azul naquele paciente que está em risco elevado de queda. E para a lesão por pressão temos o sinalizador a nível dos relógios em mudança de decúbito, e também a implementação de algumas coberturas de prevenção”, destacou.

A perspectiva do enfermeiro e os indicadores de  qualidade para a segurança do paciente hospitalizado
A médica Sara Monteiro de Moraes, do Hospital das Clínicas da UFMG, administrado pela Empresa de Serviços Hospitalares (Ebserh), ministrou palestra sobre “Auditoria Segurança do Paciente: perspectiva do enfermeiro”. Ela falou da experiência que teve no HC em buscar através da auditoria a impressão que os enfermeiros têm do processo de trabalho e do cuidado do paciente; pensando na segurança do paciente e na qualidade do cuidado. “Uma auditoria tem o objetivo de medir se algo está sendo bem executado. Pode ser um processo, uma tarefa, se há conformidade dos indicadores com os protocolos e diretrizes, avaliar como está sendo realizado na nossa unidade. A auditoria busca medir, analisar os dados, tentar pensar o que precisa ser melhorado, instituir planos de melhoria, implementar, sustentar aquela mudança e depois re-auditar para ver se aquilo está sendo mantido ao longo do tempo e se algumas revisões devem ser feitas. Nesse caso, a nossa auditoria com enfermeiro foi um pouco adaptada da definição conceitual do que é uma auditoria, mas era a forma de dar voz ao enfermeiro e verificar in loco qual era a expectativa dele na oferta de um cuidado seguro de qualidade”, explicou.


sARASara Monteiro 

Sara enfatizou que a criação de metas é essencial para que aquela melhoria seja de fato instituída e afirmou que é necessário ter uma meta em termos de prazo e do nível de qualidade que quer atingir. “Ter uma meta é a melhor forma para cumprirmos um desejo e isso melhoraria a perspectiva do enfermeiro quanto a essa impressão que ele tem do próprio trabalho, de oferecer um trabalho de qualidade para o paciente.”

A enfermeira Camila Rinco Alves Maia, do Grupo Santa Casa de Belo Horizonte, foi a convidada a falar sobre os “Indicadores de Qualidade para a Segurança do Paciente Hospitalizado relacionados às Lesões por Pressão e Quedas”. Segundo Camila, existem seis protocolos de segurança que são obrigatórios de ser implantados nos serviços de saúde para cumprimento legal perante a ANVISA, dentre eles tem-se o de prevenção de quedas e de lesão por pressão. Em cada protocolo são descritas estratégias de monitoramento, que inclui indicadores de processo e resultados. “Indicadores podem ser conceituados como medidas qualitativas ou quantitativas que permitem conhecer em que nível um determinado objetivo foi atingido. Eles sinalizam potenciais áreas de oportunidade de melhoria. A criação de indicadores hospitalares de segurança do paciente teve início em 2002, quando a Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde (AHRQ) dos EUA desenvolveu-os a partir de dados de bancos administrativos de códigos da Classificação Internacional de Doenças. Esses indicadores refletem a qualidade do cuidado nos hospitais, focando em aspectos da segurança do paciente. Especificamente, rastreiam problemas que os pacientes vivenciam como resultado da exposição ao sistema de saúde, e que são susceptíveis à prevenção, através de mudanças ao nível do sistema ou do prestador”, explicou.

“Indicadores como os de “% de pacientes submetidos a avaliação de risco para lesão por pressão na admissão”, “% de pacientes recebendo avaliação diária para risco de lesão por pressão”, “proporção de pacientes com avaliação de risco de queda realizada na admissão” permitem identificar áreas em que há necessidade de maior número de investigações e análises para compreender os fatos e tomar decisões que visam a implementação de práticas de segurança na assistência. ”, pontuou.  Ela ressaltou, ainda, a importância de selecionar os indicadores que realmente possuem dados fidedignos para serem coletados e que seus resultados possam influenciar no sistema de saúde.

Camila Rinco também parabenizou a Escola de Enfermagem da UFMG pela iniciativa em organizar este evento, e ressaltou que é de extrema importância que os acadêmicos sejam inseridos na temática de Segurança do Paciente antes mesmo de se tornarem profissionais.

CAMILA RINCOCamila Rinco