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Pesquisadores lançam suplemento sobre doenças infecciosas, crônicas e de causa externa no Brasil

Nesta segunda-feira, 14 de fevereiro, pesquisadores do Brasil e do exterior lançaram, no canal da Escola de Enfermagem no Youtube, o suplemento da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical que reúne 23 artigos sobre a tripla carga de doenças no Brasil, caracterizada pela concomitância de doenças infecciosas, crônicas e de causa externa em 2019.

O material, que pode ser conferido neste link, é resultado de parceria que envolve a Rede GBD Brasil - Carga Global de Doenças, coordenada pela professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta e pelo professor Faculdade de Medicina da UFMG, Antonio Ribeiro; a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o Institute of Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, e 23 universidades brasileiras.

Lançamento SuplementoSegundo a professora Deborah Malta, foram analisados dados de 360 doenças e lesões e 84 fatores de risco por idade e sexo. “As estimativas da carga de doenças têm um papel fundamental para permitir que os gestores realizem ações preventivas e assistenciais pautadas em evidências científicas. Além de informar as estimativas aos formuladores de políticas, os colaboradores da Rede GBD-Brasil têm a missão de difundir essa iniciativa no meio acadêmico e para a população em geral”, ressalta.

No que diz respeito aos fatores de risco, o suplemento reúne artigos que retratam a importante redução da carga de doenças no país entre 1990 a 2019. A importante redução de FR como o tabagismo, contribuíram na queda das doenças cardiovasculares. Segundo Deborah, a melhoria do acesso à água e saneamento resultaram em ganhos de vida e redução da mortalidade infantil. Por outro lado, o aumento dos fatores de risco metabólicos como a hipertensão arterial e a obesidade respondem pelo aumento da carga de Doenças crônicas não transmissíveis. “Entender que a carga das doenças pode ser atribuída aos principais fatores de risco é essencial para estabelecer medidas de prevenção e controle modificáveis”, relata

Em relação às Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), enquanto um artigo descreve a mortalidade prematura por quatro principais doenças não transmissíveis e suicídio no Brasil: doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes e doenças respiratórias crônicas, um outro ressalta a alta carga de incapacidade por dor lombar, osteoartrite, artrite reumatóide e gota no Brasil. Além disso, há quatro artigos que abordam sobre câncer: de laringe; pâncreas; e próstata e de lábio, cavidade oral e faringe no Brasil.

A professora Deborah, lembra, ainda, que pela primeira vez o GBD analisa dados sobre a saúde bucal. “Em um artigo mostra que, em 2019, quase 100 milhões de brasileiros se mostraram pelo menos uma desordem oral, tais como edentulismo, periodontite e cáries dentárias. Outros dois artigos detalhados redução da morte e da morte por câncer e pescoço, e de lábios, orofaringe e laringe; que ainda apresentam perguntas preocupantes entre homens”, destaca.

Violência, uso de cocaína e doenças infecciosas
A carga da violência no país é conhecida em cinco artigos com diferentes enfoques como: um deles analisa a mortalidade por feminicídio no Brasil, outro artigo as tendências da mortalidade no trânsito, que, de acordo com a professora, apesar do declínio no total de óbitos e nas taxas, ocorreu aumento das taxas de mortalidade no trânsito por motocicleta, que acomete mais homens e adultos jovens, assim como nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os homens apresentam as maiores taxas por suicídio no país, sobretudo entre idosos, como demonstrado por dois artigos sobre este tema, ressalta. “O Brasil também apresenta a maior carga por uso abusivo de cocaína, com taxas de dependência 2,7 vezes maiores em homens. “

Em relação as doenças infeciosas, um artigo sobre HIV analisa o impacto positivo das medidas de prevenção introduzidas pelas políticas públicas de acesso a medicamentos e redistribuição.

Pandemia da Covid-19
A pandemia da Covid-19 também foi tema de dois artigos que apontaram excesso de mortalidade por causas naturais entre brancos e negros, onde constatou disparidades raciais no excesso de mortalidade durante a pandemia no Brasil. O maior excesso encontrado para o negro sugere uma relação intrínseca com a situação socioeconômica, expondo ainda mais a realidade brasileira, na qual a desigualdade social e estrutural é evidente.

Já no artigo sobre a redução de internações hospitalares públicas por doenças cardiovasculares, durante a pandemia, os autores concluíram que as internações foram 16,3% menores do que o esperado. A redução das internações decorre da “disputa de leitos”, que foram priorizados para o enfrentamento da pandemia. Assim, muitos doentes com co-morbidades crônicas, acabaram por morrer em casa, sem acesso a serviços de saúde.