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Pesquisadores discutem o papel do preço e da publicidade de alimentos ultraprocessados na obesidade no Brasil

Na manhã da última sexta-feira, 6 de março, pesquisadores, nutricionistas e estudantes se reuniram na Escola de Enfermagem para discutir sobre o papel do preço e da publicidade de alimentos ultraprocessados na obesidade no Brasil.

rafael e danielaDe acordo com o professor do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, Rafael Moreira Claro, coordenador do seminário, o objetivo foi despertar o conhecimento das pessoas a respeito da influência que os alimentos ultraprocessados têm na saúde e como que a publicidade, o preço, a oferta de alimentos em diferentes locais, dentre demais fatores, fazem com que nós tenhamos uma alimentação cada vez pior, sem nem sempre se dar conta disso”, pontuou.

O consumo de alimentos ultraprocessados e obesidade foi abordado pela professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Daniela Canella. Ela falou sobre o panorama global e nacional de evolução da obesidade, como a alimentação se transformou ao longo do tempo, com enfoque no Brasil, e como tem sido a alimentação e o estado nutricional dos brasileiros. “Nós temos pesquisas no Brasil, como a de Orçamentos Familiares, na edição de 2008-2009, e alguns trabalhos sobre essa relação. Quando a analisamos a massa corporal do indivíduo e o aumento do consumo de calorias desses alimentos ultraprocessados, o resultado é um maior índice de massa corporal dos indivíduos, maior prevalência de obesidade na população e maior circunferência de cintura nos indivíduos. Essa relação pode ser vista tanto no Brasil, quanto no Canadá, EUA e 19 países da Europa”.

Daniela destacou, ainda, que ao longo do tempo, nós temos reduzido o consumo de arroz, feijão, mas também de ingredientes culinários como o óleo e o açúcar de mesa. “O açúcar, por exemplo, o consumo é estável, mas a fonte do açúcar muda. Por outro lado, nós aumentamos o nosso consumo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos de pacote, pães embalados e bolos prontos, tudo isso vem aumentando”.

Preço
Preço dos alimentos ultraprocessados e obesidade foi tema da apresentação da professora da Universidade Federal de Viçosa, Camila Mendes dos Passos. Ela explicou que preço é um determinante central das escolhas alimentares. “O preço baixo dos ultraprocessados, a facilidade de acesso e o marketing agressivo dos alimentos estimula o consumos dos alimentos ultraprocessados. O preço tem uma relação direta com o estado nutricional das pessoas. Essa relação é para avançarmos na discussão das políticas fiscais, que vão incidir sobre o preço dos alimentos”.


IMG 2760Camila Mendes

Sobre os principais achados da pesquisa, Camila destacou que os alimentos ultraprocessados eram mais caros do que o grupo com todos os outros alimentos; cerca de metade da população (42,6%) estava acima do peso, enquanto 13,5% eram obesos; associação inversa entre o preço dos alimentos ultraprocessados e prevalência de excesso de peso e obesidade no Brasil e que associações concentram-se na metade inferior da distribuição da renda per capita da população. "O preço do alimento está associado ao estado nutricional (prevalência de excesso de peso e obesidade) no país. Políticas fiscais capazes de influencia o cenário atual de preço dos alimentos podem ser ferramentas importantes no controle da obesidade", concluiu.

Publicidade
A nutricionista e mestre em Nutrição e Saúde pela UFMG, Marina Santana, falou sobre publicidade televisiva de alimentos ultraprocessados no Brasil. Ela explicou que publicidade é o meio de divulgação de produtos e serviços com o objetivo de propagar seu consumo, despertando no público o desejo de compra. "A publicidade televisiva de alimentos é marcada pela promoção de alimentos ultraprocessados, e o hábito mais frequente de assistir televisão está associado há um maior consumo desses. Um dos principais impulsionadores de comportamentos alimentares não saudáveis, especialmente entre crianças e adolescentes, embora pessoas de todas as idades sejam impactadas por anúncios", explicou.


IMG 2765Marina Santana

Ainda de acordo com ela, o estudo foi capaz de investigar as principais estratégias persuasivas de marketing, na publicidade televisiva de alimentos ultraprocessados, na TV aberta do país. “O principal grupo de estratégias persuasivas usadas pelos anunciantes de alimentos, para promover os AUP, foram as “alegações de benefícios da marca”. Identificamos cinco padrões de estratégias persuasivas de publicidade associadas aos anúncios de AUP, demonstrando uma falta de aplicação da legislação reguladora atual no país”.

Aplicativos de delivery
Alimentos e refeições ultraprocessados em aplicativos de delivery foram destacados pela nutricionista e mestranda em Nutrição e Saúde, Juliana Souza. O objetivo foi descrever o perfil de alimentos e preparações ofertadas em dois aplicativos populares de delivery de comida em uma metrópole brasileira, assim como as estratégias de marketing utilizadas para estimular a aquisição dos alimentos e refeições.

Sobre ambiente alimentar virtual ela explicou que são plataformas de negócios que ofertam serviços de gestão de pedidos, entregas e pagamentos aos estabelecimentos produtores de refeições, os quais são responsáveis pela preparação dos pedidos”, explicou.

IMG 2771Juliana Souza

No que diz respeito ao uso de estratégias de marketing para potencializar as vendas, Juliana destacou: Cupons de desconto, redução de preços combos; entrega grátis; contato direto com o cliente por meio do envio de Short Message Service (SMS) e e-mails e peças publicitárias em mídias sociais.

Ao todo, 362 restaurantes belorizontinos tiveram suas opções estudadas. A pesquisa destaca que as bebidas ultraprocessadas são vendidas em quase 80% dos estabelecimentos, os lanches ultraprocessados em 38% deles e produtos de sorveteria e guloseimas em 42,8%. Por outro lado, refeições com predominância de legumes e verduras são encontradas em menos de 16% dos restaurantes e, em relação às frutas, apenas 4% deles tinham a opção.