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Resultados da análise do laboratório da Pesquisa Nacional de Saúde mostram painel das condições de saúde dos brasileiros

Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) traz resultados inéditos sobre prevalências de anemia, hemoglobinopatias, diabetes mellitus, doença renal, colesterol e Indicadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em mulheres com idade reprodutiva, beneficiárias e não beneficiárias do Programa Bolsa Família. O levantamento foi feito com a análise de sangue e de urina com cerca de 9 mil adultos das cinco regiões do Brasil, nos anos de 2014 e 2015. A análise da pesquisa foi coordenada pelas professoras Deborah Carvalho Malta, da Escola de Enfermagem da UFMG e Célia Landman Szwarcwald, da Fiocruz Rio de Janeiro.

O estudo, que é uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fiocruz, do Ministério da Saúde, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Hospital Sírio-Libanês, apontou que a prevalência de anemia entre adultos e idosos no Brasil foi de 9,86%, sendo maior entre mulheres (12,2%), idosos (24,3%), pessoas de baixa escolaridade (11,9%), negros (17,1%).

Debora Malta PNSA professora Deborah Malta destaca que houve uma melhora expressiva da anemia em mulheres em idade fértil, caindo para um terço em uma década. Em 2006, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde identificou que (29,4%) das mulheres em idade fértil tinham anemia, caindo para cerca de 12,2% na PNS, após uma década. “Pode ser o resultado de importantes políticas públicas na última década, como em 2004 a implantação do Programa de Fortificação de Farinhas de Trigo, de Milho, com ferro e ácido fólico, e em 2005 a implantação do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (crianças de 6 aos 24 meses, gestantes e mulheres no pós-parto, e na suplementação de gestantes com ácido fólico), além da expansão da atenção primária à saúde e a promoção da alimentação adequada” , explicou.

De acordo com o estudo, houve presença de hemoglobinopatias em 3,7% da população brasileira e as principais foram o traço falciforme (2,49%), a talassemia menor (0,30%) e a suspeita de talassemia maior (0,80%). A professora disse que estas prevalências foram mais elevadas na população negra, apontando a importância deste diagnóstico para melhorar a qualidade de vida em populações mais predispostas.

O diabetes foi identificado em 6,6% dos adultos pelo critério laboratorial, mas, considerando-se critérios simultâneos (laboratorial ou uso de medicamento) a prevalência do diabetes foi de 8,4%. Pelo critério laboratorial ou autorreferido foi 9,4% e critério autorreferido 7,5%. Em todos os critérios, a prevalência foi mais elevada entre mulheres. Deborah Malta ressalta que o diabetes foi mais frequente em mulheres, idosos e 1,7 vezes mais elevado em população com sobrepeso e 3,3 vezes mais elevado em obesos. Ela ressaltou a importância de manter estilos de vida saudáveis.

A avaliação da função renal da população adulta brasileira foi realizada pela dosagem de creatinina sérica e estimou a Taxa de Filtração Glomerular (TFG), segundo variáveis sócio demográficas. A prevalência da TFG foi de 6,7%, mais elevada em mulheres (8,2%) do que em homens (5,0%). Em idosos com 60 anos e mais foi de 21,4%. “Estimativas do laboratório da PNS foram até 4 vezes maiores ao se comparar com os resultados das pesquisas autorreferidas (1,7%). Portanto, este resultado sugere o subdiagnóstico da Doença Renal Crônica no país. Isto serve de alerta, pois pacientes com hipertensão, diabetes devem ser monitorados, e solicitado, por exemplo, pelas equipes de Saúde da Família, exames de Creatina regularmente, para o diagnostico precoce de alteração da função renal. O que pode prevenir a Doença renal crônica, e melhorar a qualidade de vida desta população” , enfatizou.
Foram analisados os níveis de colesterol total e frações alterados na população adulta brasileira. A prevalência de colesterol total foi de 32,7%, mais elevado em mulheres (35,1%). A prevalência de lipoproteínas de alta densidade (HDL) foi de 31,8% e as de baixa densidade foi encontrada em 18,6%. A população com idade de 45 anos ou mais e com baixa escolaridade apresentou maiores prevalências de LDL com alterações. Segundo a professora Malta, em geral, os resultados laboratoriais foram mais alterados em populações idosas e de baixa escolaridade. O que leva a necessidade dos profissionais de saúde terem um olhar diferenciado para estas populações mais vulneráveis.

Ela pontua, ainda, que foi avaliada a prevalência dos indicadores de DCNT, incluindo exames laboratoriais, na população de mulheres brasileiras em idade reprodutiva, segundo o recebimento do Bolsa Família. A pesquisa constatou que mulheres beneficiárias do bolsa família têm piores desfechos como: maior ocorrência de sobrepeso (33,5%) e obesidade (26,9%); uso de tabaco (11,2%); maior prevalência de hipertensão arterial (13,4%) e percebem sua saúde pior (6,2%). Em contrapartida, o consumo de feijão foi mais elevado (75%) e consumiam menos bebida alcoólica (13,4%). “Estes resultados apontam que o benefício do Bolsa Família tem sido direcionado à população com maior necessidade em saúde e assim podem reduzir iniquidades em saúde”, disse.

A professora conclui que esses resultados dos exames laboratoriais da PNS inéditos representam potencial da produção de conhecimentos sobre características e condições de saúde da população brasileira e de aprimoramento da vigilância das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), além de constituir um marco para a saúde pública brasileira.