Professores da Escola de Enfermagem da UFMG vão participar de estudo para avaliar as condições de saúde da população de Brumadinho, após o rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro deste ano, visando à detecção de mudanças nessas condições em médio e longo prazos.
Sérgio Viana Peixoto, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor do Departamento de Enfermagem Aplicada da Escola de Enfermagem da UFMG, vai coordenar um estudo que irá avaliar a saúde dos moradores de Brumadinho. Intitulada Saúde Brumadinho: estudo longitudinal sobre as condições relacionadas à saúde da população, a pesquisa, desenvolvida pela Fiocruz – com colaboração da UFMG –, busca identificar alterações em diversos aspectos da saúde da população para a tomada de decisões que possam controlar e até mesmo antecipar problemas futuros.
Os dados para o estudo serão coletados por meio de entrevistas e exames clínicos anuais nos domicílios de quatro mil adolescentes e adultos com idade a partir dos 12 anos, tanto das áreas atingidas diretamente pela lama quanto de outras partes do município. Os pesquisadores entendem que toda a população foi atingida de alguma forma, e não somente quem perdeu familiares ou bem materiais.
Dados de uma amostra menor, formada por crianças de 0 a 4 anos de regiões diretamente afetadas, também serão coletados para acompanhar o desenvolvimento neuromotor e neurológico, sendo essa parte da pesquisa coordenada por pesquisadores da UFRJ. Todas essas informações possibilitarão indicar aos serviços de saúde as principais demandas da população ao longo do tempo, de modo a favorecer o planejamento adequado desse sistema para responder a essas demandas.
“No Brasil, não temos evidências dos efeitos de um desastre desse tamanho, como foi em Brumadinho, em longo prazo. Temos estudos pontuais de enchentes, seca no Nordeste e ações imediatas ao rompimento em relação a resgates e emergência. No entanto, a proposta para Brumadinho é verificar esses efeitos ao longo do tempo, dando continuidade às ações já desenvolvidas no município pelo Ministério da Saúde”, esclarece o professor Sérgio.
De acordo com o pesquisador, é possível que o perfil de doenças na população se modifique, como aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares. Estudos feitos em outros países mostram que, 15 anos depois de algum grande desastre, como terremotos, o comportamento da população se modificou, com aumento de transtornos mentais e do consumo de álcool, cigarro e outras drogas, por exemplo.
O estudo longitudinal foi solicitado à Fiocruz pelo próprio Ministério da Saúde e abrange diversas áreas, como toxicologia, que envolve metais pesados; saúde ambiental e impacto de desastres; alimentação e nutrição; acesso e qualidade da água; e condições de saúde, incluindo saúde mental.
A pesquisa conta com a colaboração de equipe multiprofissional formada também por outros pesquisadores da UFMG, como a professora do Departamento de Nutrição, Aline Cristine Souza Lopes, que será a responsável por toda avaliação nutricional e alimentar da população. O importante impacto nas áreas rurais e na água do rio pode modificar a disponibilidade de alimentos, levando a problemas nutricionais em longo prazo, o que deverá ser monitorado nessa pesquisa. O professor Pedro Vidigal, do Departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina, será responsável pelas amostras biológicas a serem coletadas. “Faremos exames laboratoriais de sangue e urina para avaliação da saúde da população e coletaremos amostras para armazenamento, considerando a possível necessidade de novos exames ou estudos futuros”, explica o professor.
Maila de Castro e Frederico Garcia, professores do Departamento de Saúde Mental, integram o grupo, são responsáveis pelo acompanhamento da população para identificar mudanças no comportamento e na saúde mental. “No caso da saúde mental, vamos avaliar os transtornos relacionados ao estresse pós-traumático”, antecipa a professora Maila de Castro. De acordo com a professora, a soma dessas perdas pode causar cicatrizes em longo prazo, que são fatores de risco para transtornos psiquiátricos, como a depressão.
(Com Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG)