Projeto de extensão coordenado pela professora Érica Dumont Pena, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, realiza trabalhos de mapeamento sobre saberes e práticas de gestação, parto e o pós-parto dos povos indígenas de Minas Gerais, em especial as comunidades Pataxó, Xakriabá e Maxakali. De acordo com a professora, o projeto “Nascer indígena?” objetiva indicar possibilidades e desafios para as políticas públicas de saúde da mulher e da criança indígena.
Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), uma criança indígena tem três vezes mais chances de morrer antes de um ano que uma criança não indígena. “Trata-se, assim, de questões importantes e inaceitáveis, diante do nível de desenvolvimento do país e sua capacidade para enfrentar essas questões”, defende a professora. De acordo com ela, o desconhecimento e a tensão entre os modos de vida indígenas ainda fazem parte do cotidiano de saúde pública. “Da mesma forma, os profissionais da saúde, não indígenas, têm tanto o seu percurso histórico, quanto de formação, marcados por um profundo desconhecimento acerca dos povos indígenas e seus complexos processos de nascer”, disse.
O projeto, então, vai na contramão a essa realidade e realiza um trabalho que pode auxiliar em uma mudança de quadro. “Nascer indígena tem vários significados, diz respeito à uma pergunta provocativa: ‘existe uma forma de nascer indígena?’. Nos convida a refletir sobre dois pontos: primeiro a necessidade de particularizar o cuidado à povos indígenas de culturas tão diversas e segundo o preconceito e o desconhecimento, por parte de profissionais da saúde e população geral, em torno dos saberes e práticas dos povos indígenas”, explica Érica sobre o nome e objetivos do projeto.
A partir do projeto, a professora conclui que os saberes sobre pré-parto, parto e nascimento indígena são muito diversificados e se manifestam nos diferentes modos de vida. “Nesse sentido, buscamos compreender o cuidado com a mulher e criança pequena, a partir da noção do corpo como um projeto a ser construído socialmente, que envolve mulheres, homens, demais parentes da comunidade, animais e coisas, bem como uma série de práticas de educação e saúde, como prescrições alimentares e posturais, banhos, chás, ervas, rezas, as quais são contínuas e intencionais”, conta Érica.
O projeto é realizado a partir de pesquisa utilizando outros estudos da mesma temática e relatos orais sobre o nascer com mestres dos saberes tradicionais das maiores etnias de Minas Gerais. Além disso, conta com a parceria das professoras Ana Gomes, da Faculdade de Educação e Cristina Barra, da Faculdade de Antropologia, além de discentes indígenas e não indígenas.
Redação: Teresa Cristina, estagiária de Jornalismo
Edição: Rosânia Felipe