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Dietas da moda e tratamento da obesidade foram discutidos em simpósio

auditorio cadObesidade, dietas, emagrecimento e tantos outros temas são diariamente difundidos e conhecidos pelas pessoas. Na internet, local de grande fluxo de informação, é possível encontrar instruções de dietas diversas sem que haja fundamento científico para tal ou ainda muito do que se tem discutido na literatura sobre estratégias dietéticas são pouco exploradas na prática clínica. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e de outras instituições, se reuniram, com cerca de 400 pessoas inscritas, na última sexta-feira, 29 de março, no campus Pampulha da UFMG), para discutir temas relacionados à obesidade e distúrbios metabólicos.

Dietas da moda, tratamento da obesidade, novas abordagens para o emagrecimento e jejum intermitente foram alguns dos temas da programação do simpósio. A mesa de abertura contou com a presença da vice-diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, professora Simone Cardoso Lisboa Pereira; chefe do Departamento de Nutrição, professora Luana Caroline dos Santos e pela coordenadora do evento, professora Adaliene Versiani Matos Ferreira.

Segundo Adaliene, o objetivo do simpósio foi transmitir conhecimentos relacionados a obesidade e distúrbios associados, por meio de palestras e debates sobre temas relevantes e atualizados, com abordagens nas áreas da nutrição, medicina, educação física, fisiologia endócrina, imunologia, metabolismo intermediário e tratamentos.

Adaliene Versiani MatosEm sua palestra de abertura do evento, Adaliene abordou a inflamação como um elo entre a obesidade e alterações metabólicas. Ela explicou que obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que apresenta risco à saúde. “O aumento da massa adiposa é acompanhado por um processo inflamatório no tecido adiposo que por sua vez, desencadeia alterações metabólicas incluindo o diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia dentre outras”, disse.

Ainda de acordo com a professora, a inflamação ocorre devido a alguns estímulos no tecido incluindo a hipóxia, apoptose, aumento da liberação de gordura do tecido (ácidos graxos livres), acúmulo de proteínas de matriz extracelular e também decorrente da disbiose (aumento de LPS circulante).

A professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Jacqueline I Alvarez-Leite, falou sobre genética e medicina de precisão na obesidade. “A medicina de Precisão (Personalizada) é definida como uma abordagem para a prevenção e tratamento de doenças por meio do desenvolvimento de diagnósticos e terapias que proporcionam máxima eficácia, considerando a variabilidade genética individual, integrando informações clínicas e moleculares e fatores como meio ambiente e estilo de vida”, explicou.

Segundo ela, a obesidade está aumentando no mundo inteiro, inclusive no Brasil, que tem uma perspectiva de reduzir de 19 para 18% o número de pessoas obesas até 2019. “Mas, apesar das políticas de saúde e alimentação, o que vemos é um crescimento. Uma outra vertente que temos é o que está causando esse aumento que não seja só a alimentação e os hábitos de vida. É onde entra a genética, que vai mostrar qual a pré-disposição que o indivíduo tem para essa obesidade, muitas vezes até de responder melhor a determinada dieta”.

Ela concluiu afirmando que embora para a maioria dos pacientes a cirurgia bariátrica seja um sucesso com o tratamento e acompanhamento padrão, o conhecimento de características individuais genéticas ou ambientais pode ser útil para definir estratégias de tratamento de casos difíceis e atípicos.“A genética é até importante, mas não tanto quanto a dieta, mudança de hábito alimentar e atividade física, esses fatores são capazes de anular uma herança ou uma tendência a obesidade que a pessoa tem”.

Controle da fome na obesidade
A palestra do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dennys Cintra, "I cant't no, hypothalamic satisfaction", foi uma alusão à música dos Rolling Stones, mas dizendo que não é possível ter satisfação hipotalâmica, porque o hipotálamo é o órgão controlador de fome no nosso cérebro. Isso, segundo ele, acaba sendo a causa mecânica da obesidade, porque se a pessoa não consegue controlar a intensidade da fome, há um problema.

Dennys CintraEle mostrou quais são os mecanismos que foram descobertos que interferem de forma pontual em neurônios controladores da fome. “Temos neurônios que nos dão a fome e outros que tiram, tem que ter um equilíbrios entre essas duas populações neuronais. Durante muito tempo, acreditamos que primeiro era preciso se tornar obeso para depois surgir um processo inflamatório e, assim, essa inflamação ia interferir no sistema nervoso central. Atualmente, entendemos o contrário, que nos tornamos obeso por conta de uma inflamação que iniciou de forma muito antecipada e isso é baseado no que comemos”, explicou.

O nutricionista pontuou alguns nutrientes que têm a capacidade de desencadear um processo inflamatório como gordura saturada.

Segundo o professor, a obesidade é uma doença de cunho social e quando entendemos que ela não tem tratamento, mas sabemos quais são os determinantes dela, sabemos que é preciso olhar para trás e investir em políticas públicas de saúde para ter controle sobre o tipo de alimento ofertado na nossa alimentação, as propagandas atreladas aos alimentos e venda de brinquedo ligada à comida. “Isso contribui desde cedo para propagação de uma doença que se alastra de forma descontrolada no Brasil e no mundo”, concluiu.

Jejum intermitente e Nuts
Jejum intermitente, mecanismos e aplicações foi tema abordado por Débora Romualdo, professora nos cursos de Educação Física, Nutrição e Enfermagem da Faculdade Pitágoras. Segundo ela, o jejum intermitente seria alternar dias de jejum absoluto, ou períodos de extrema restrição calórica, com outro dia de alimentação livre. “Muitas pessoas acham que é um método novo, mas, na verdade, sabemos que desde 1943 temos trabalhos na literatura tentando investigar os efeitos dessa prática”, explicou Débora. 

Em sua palestra, a professora apresentou autores e autoras que realizaram estudos com evidências científicas tanto a favor do método, quanto contrários. A partir disso, ela concluiu que o tema é controverso e que seu posicionamento é pelo acompanhamento individual do nutricionista, ou profissional de saúde no geral, com o seu paciente. “O nutricionista, na hora da prescrição do jejum intermitente, deve saber para quem é, qual idade, qual o contexto, pois sabemos que para determinadas situações pode ser muito positivo e para outras muito negativo, então, vai da análise do profissional”, afirma.

debora romualdoConsumo de nuts e risco cardiometabólico foi outro tema tratado na programação do evento. A nutricionista e professora da Universidade Federal de Viçosa, Josefina Bressan, esteve a frente da palestra que tratou do consumo de nozes, sementes e castanhas comestíveis e seu efeito em relação aos riscos de uma pessoa danificar seu coração e vasos sanguíneos. Josefina abordou sobre variáveis e fatores relacionados ao risco cardiometabólico, como peso corporal, mastigação, estresse oxidativo, fatores de inflamação e outros, tendo o foco da palestra, porém, no uso das várias nuts existentes e os seus efeitos.

“O que nós encontramos é que os efeitos não são claros e não muito evidentes, pois varia bastante em quantidade e tempo de consumo, além de pessoas diferentes consumindo, não há, então, uma relação óbvia entre o consumo e a prevenção de doenças cardiovasculares”, explicou a professora. Por outro lado, Josefina destacou que as nuts têm recebido atenção dos estudos e análises, pois é um alimento rico em minerais, gorduras boas e de excelente qualidade, além de compostos com ação antioxidante que podem interferir positivamente nos riscos cardiometabólicos.

Abordagens de emagrecimento
A nutricionista e proprietária da empresa Nutreex, Andreia Naves, abordou ‘Dietas da Moda e o Tratamento da Obesidade’, em específico as dietas Low Carb e citogênica, ambas com restrição em relação ao carboidrato, posicionando-as no processo de emagrecimento e apresentando o impacto delas na saúde das pessoas. “É importante pensar na adesão do paciente a essas dietas, pois elas são extremamente restritivas, precisamos pensar o quanto o paciente consegue aderir, de fato, ao tratamento nutricional”, defendeu. 

andreia navesAndrea disse, ainda, sobre a existência de vários fatores que podem levar a obesidade, para além do desequilíbrio calórico, como a questão do estresse, genética, sono, entre outras. “Não dá para sermos muito reducionistas e afirmar que uma única dieta vai ter um efeito direto e a pessoa vai ficar magra para o resto da vida. Não há uma dieta ideal, elas podem ser usadas como estratégias nutricionais e não como estilo de vida”, concluiu. Andrea defendeu e demonstrou que os casos devem ser analisados individualmente e que, muitas vezes, as dietas da moda combinadas e alternadas funcionam muito melhor que aplicadas sozinhas.

Lancha Júnior, professor da Universidade de São Paulo, encerrou a programação do simpósio com a palestra denominada “Novas Abordagens do Emagrecimento”. O principal ponto trazido por Lancha foi sobre a conciliação de dietas e métodos de emagrecimento com o exercício físico. Para ele, o equilíbrio calórico, ou seja, gastar mais calorias do que consome, é de extrema importância e foi demonstrado, ainda, como evidências científicas apontam que se movimentar mais e a prática de exercícios físicos têm interferências diretas na saúde das pessoas.

“Reduzir o ‘tempo de cadeira’ de uma pessoa, diminui o risco de que ela venha a ter problemas cardíacos no futuro”, afirmou. Lancha colocou, ainda, sobre como o acesso a tecnologia e a internet diminuiu a movimentação das pessoas. “Quando eu estava fazendo meu doutorado e precisava de um artigo, eu tinha que andar cerca de 6km para ir até a biblioteca em um dia para fazer o pedido e depois mais 6km em outro dia para buscar. Hoje, se vocês precisarem de algum artigo, em alguns minutos, em uma busca no celular, vocês conseguem”, contou na palestra.

Outro ponto importante que ele destacou foi a relação de afeto existente com a alimentação e a necessidade de considerar isso ao pensar no emagrecimento. “A relação com o alimento não é apenas carboidrato, lipídios, vitaminas e minerais, esse é um dos motivos, por exemplo, do porquê só com dieta nem sempre o indivíduo emagrece, normalmente ela coloca o alimento como inimigo e não como aliado”, defendeu.
Confira aqui o álbum de fotos do evento

(Redação: Rosânia Felipe e Teresa Cristina)