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Pesquisa aborda como o entorno de escolas da capital mineira afeta a saúde alimentar de crianças e adolescentes

Guloseimas, fast food, alimentos gordurosos e/ou superprocessados são, muitas vezes, os preferidos de crianças e adolescentes. Porém não é segredo que o consumo exagerado dessas comidas não é saudável e que pode gerar doenças como a obesidade. A professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG e líder do Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS), Larissa Mendes Loures, realiza um projeto de pesquisa que trata do consumo desses alimentos por crianças e adolescentes, mas partindo de uma abordagem diferente.

A pesquisadora analisou como o ambiente alimentar no entorno das escolas afeta a saúde de crianças e adolescentes. Segundo ela, o acesso aos alimentos no entorno das escolas tem sido considerado um ponto chave para a compreensão da influência do ambiente nas escolhas alimentares.

O estudo avaliou 1.436 escolas de Belo Horizonte, 882 (61,42%) da rede privada e 554 (38,58%) da rede pública de ensino. “Conseguimos verificar que o entorno (250 metros) das escolas de Belo Horizonte possui uma maior oferta de estabelecimentos que vendem produtos ultraprocessados (não saudáveis), sendo que no entorno das escolas privadas verifica-se que essa disponibilidade é maior que nas escolas públicas”, relatou Larissa.

foto HDA pesquisadora explica que quando o ambiente contribui para escolhas alimentares não saudáveis, ele é caracterizado como obesogênico, por favorecer a obesidade, como tem sido o caso de algumas escolas. “A obesidade é considerada um importante problema de saúde pública, que vem afetando precocemente a saúde de crianças e adolescentes. Ela está associada ao surgimento de doenças cardiovasculares, alterações respiratórias e ortopédicas, diabetes tipo 2 e distúrbios emocionais o que pode, em longo prazo, representar um impacto negativo no crescimento e desenvolvimento saudáveis de crianças e adolescentes, redução do bem-estar e da qualidade de vida, aumento nos gastos da rede de saúde e riscos elevados de mortalidade precoce na vida adulta”, pontuou.

De acordo com nutricionista, a menor distância e a maior quantidade desses estabelecimentos ao redor das escolas são associadas a escolhas alimentares mais prejudiciais para crianças e adolescentes, contribuindo para o aumento da prevalência do consumo alimentar inadequado e da obesidade nesse grupo etário. Esse comportamento é observado, também, em outras idades, como alunos do ensino fundamental.

Larissa apontou, ainda, sobre a falta de estudos nesse sentido. “São poucos os estudos brasileiros que abordam essa temática, sendo ainda mais escassos os trabalhos realizados no entorno escolar, diferentemente do que acontece em países desenvolvidos, que têm focado, cada vez mais, nesse importante contexto”, disse. Para a professora, esse trabalho demonstrou a importância do acesso de crianças e adolescentes a alimentos saudáveis dentro e fora de casa como determinantes do consumo, “principalmente para essa faixa etária em que os comportamentos são influenciados principalmente pela família e pelo ambiente escolar”, completou Larissa.

O projeto, que recebeu apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), quando concluído, de acordo com a pesquisadora, pretende propor mudanças nas intervenções comunitárias e na política pública municipal de segurança alimentar e nutricional de modo a favorecer a criação de ambientes alimentares mais saudáveis ao redor das escolas e, dessa maneira, propiciar melhores escolhas alimentares para as crianças e adolescentes.

Os resultados do estudo fazem parte da dissertação do Mestrado Acadêmico em Nutrição e Saúde da aluna Carla Marien Peres.
Decreto
Em dezembro de 2018, foi publicado pelo Estado um decreto que proíbe a venda de alimentos calóricos e ricos em açúcar tanto dentro quanto no entorno das instituições de ensino públicas e privadas. E o fim desta prática deve acontecer em até seis meses.

A medida chega para regulamentar uma lei de 2004 que prevê a promoção da educação alimentar no ambiente escolar. O motivo principal, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), é o “aumento expressivo nos casos de excesso de peso em todas as faixas etárias”.
Redação: Teresa Cristina- estagiária de Jornalismo
Edição: Rosânia Felipe