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Outubro Rosa: Câncer de Mama e a prevenção

outubro rosa imagemO mês de outubro é internacionalmente dedicado à campanha ‘Outubro Rosa’. Trata-se de uma movimentação que envolve diversos setores da sociedade em prol da luta contra o Câncer de Mama e a saúde da mulher.

A campanha é realizada ao redor do mundo desde a década de 90. O movimento teve início quando a “Fundação Susan G. Komen for the Cure” lançou o laço na cor rosa e distribuiu aos participantes da primeira Corrida pela Cura realizada em Nova York (EUA). O laço representa a luta contra o câncer e até hoje é utilizado como símbolo nas campanhas.

A professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, Mariana Santos Felisbino Mendes, explica que o movimento serve para estimular a participação popular no controle do câncer de mama e compartilhar informações sobre a doença, além de promover a conscientização e proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento.

O que é o Câncer de Mama?
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação de células anormais da mama formando um tumor. Existem tipos diferentes da doença tendo velocidades variadas de desenvolvimento.

Ainda de acordo com o INCA, a doença é o segundo câncer mais comum entre as mulheres, perdendo, apenas, para o câncer de pele. No Brasil estimam-se 59.700 casos novos de câncer de mama nos anos de 2018 e 2019. Em 2015 ocorreram 15.403 óbitos pela doença no país.

Apesar do cenário preocupante, o câncer de mama tem grandes chances de cura se descoberto precocemente. Além disso, há ações e fatores que podem auxiliar na prevenção.

Autoconhecimento é importante
Apesar da campanha ser realizada há mais de 20 anos, ainda há bastante informação que precisa chegar ao público. “Sabemos que ainda é preciso fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde para o rastreamento e o diagnóstico precoce do câncer de mama e desmistificar conceitos em relação à doença”, comenta a professora Mariana.

O INCA participa da campanha desde 2010 e neste ano o tema é “Câncer de mama: vamos falar sobre isso?” que tem como um dos objetivos, justamente, levar informações corretas à população. Um dos pontos da campanha 2018 do INCA é enfatizar a importância da mulher conhecer suas mamas, ficando atenta a alterações. A técnica denominada Breast Awareness trata exatamente sobre isso.

MARIANA LAICCAMSegundo a professora Mariana, Breast Awareness significa alerta para as mamas e vem substituir o autoexame, não mais recomendado pelas evidências científicas há mais de uma década.

O objetivo dessa técnica é que a mulher, ao longo de sua vida, conheça essa parte do seu corpo para que consiga perceber eventuais mudanças. “Esse alerta para as mamas é um estímulo para que a mulher mais que apalpe suas mamas em alguma sistemática específica, mas que a conheça e observe sempre que se sentir confortável para tal. Seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano”, orienta Mariana

O autoexame não é recomendado
De acordo com o Ministério da Saúde e o INCA, o autoexame não é mais recomendado como método de rastreamento do câncer de mama - essa orientação é de 2004. Com o autoexame, somente é possível detectar o câncer já em estado mais avançado (tumor acima de 2cm), o que pode dificultar o tratamento.

Apesar dessa orientação, o autoexame é colocado como método de prevenção e de descoberta por várias campanhas pelo país. Em alguns casos, até por profissionais de saúde. Porém, o método indicado para a descoberta ainda é a mamografia (a partir dos 50 anos) e o autoconhecimento ao longo da vida.

Segundo Mariana, a mamografia é um exame que auxilia no diagnóstico precoce e no rastreio do câncer. “É importante dizer que esse exame não previne a doença”, alerta a professora. De acordo com ela, a prevenção do câncer de mama está relacionada à prevenção de fatores de risco que aumentam a chance de ter a doença.

Fatores de Risco
De acordo com o INCA, a idade é um dos mais importantes fatores de risco para a doença (cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos), mas não é o único. “Obesidade e sobrepeso após a menopausa, o sedentarismo, o consumo de bebida alcoólica e a exposição frequente a radiações ionizantes, são alguns fatores e nesse caso estamos falando principalmente daqueles que podemos modificar relacionados aos nossos hábitos de vida”, aponta Mariana. O último fator apontado por ela inclui, também, a própria mamografia. Indicada para as mulheres sem sinais, sintomas e sem história da doença, devendo ser feita somente a cada dois anos e após 50 anos de idade completos.

Há, ainda, alguns fatores que não envolvem questões comportamentais, como os fatores da história reprodutiva e hormonal, além dos genéticos e hereditários. Primeira menstruação antes dos 12 anos, não ter amamentado, primeira gravidez após os 30 anos e uso de contraceptivos hormonais são alguns dos fatores da história reprodutiva e hormonal. Quanto aos genéticos e hereditários, alguns apontados são os casos de câncer de mama e de ovário na família e alterações genéticas.

É importante ressaltar que se a mulher tiver mais de um desses fatores não significa, necessariamente, que terá a doença. Além disso, algumas evidências científicas sustentam que cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis, explica Mariana.

Prevenção
Hábitos de vida saudáveis são as maiores indicações quando o assunto é prevenção. A prática de exercício regulares, alimentar-se adequadamente e manter o peso dentro do que é indicado pelos profissionais de saúde são algumas das formas de se prevenir. Para além, Mariana explica que a amamentação é considerada fator de proteção e, por isso, pode ajudar a prevenir a doença.

alimentos 2A nutricionista e professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da EEUFMG, Camila Kümmel, explica que os estudos que relacionam a alimentação e a doença têm mais certeza dos alimentos que aumentam o risco. Carnes vermelhas, principalmente processadas, excesso de gordura na dieta e consumo excessivo de álcool são alguns deles.

Camila afirma que dietas com maior volume de vegetais e especialmente de frutas, sugerem proteção para o desenvolvimento deste tipo de câncer. Ela explica, também, que o consumo de fibras e a escolha de melhores fontes de carboidratos com mais baixo índice glicêmico podem auxiliar na prevenção.

Tratamento
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, além da mamografia, todo o tratamento do câncer de forma gratuita. Cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica são as modalidades do tratamento.

“Tenha força, coragem e acredite que tudo passa”. A professora Tânia Chianca conta como foi a luta contra o câncer de mama
Tânia Couto Machado Chianca é professora do Departamento de Enfermagem Básica da EEUFMG e foi diagnosticada com câncer de mama em março de 2016 em um exame anual de rotina com ultrassom e mamografia. “Foi um ano de muita experiência, efeitos colaterais, vivência do meu sofrimento e para muitas outras pessoas. Uma oportunidade, também, de fazer amigos e saber com quem poderia contar na vida”, disse.
Leia abaixo o relato completo da professora:
“Fui diagnosticada em um exame anual de rotina, ultrassom e mamografia em março de 2016. Não tem sido uma experiência fácil desde então. Tenho que lidar diariamente com pequenos problemas que alteram minha vida diária, meu trabalho e minha tranquilidade.
Fiz inicialmente quimioterapia para diminuir o tumor. Foram seis meses de muita experiência, efeitos colaterais, vivência do meu sofrimento e de muitas outras pessoas durante apenas a quimioterapia. Uma oportunidade também de fazer amigos e saber com quem poderia contar na vida.
A seguir, cirurgia, quadrantectomia, que retirou o tumor, o câncer luminal, ductal, invasivo. Este foi submetido a exames imunohistoquímicos que identificou ser o mesmo hormoniodependente. Uma semana após a primeira cirurgia, fui novamente submetida a um esvaziamento axilar, pois 4 linfonodos estavam positivos. Essa cirurgia tem impactado até hoje minha vida e sei que terei que conviver com seus efeitos colaterais nos meus anos vindouros. Comecei a fisioterapia reabilitadora e até hoje sou submetida a sessões semanais para prevenir linfedema, retrações e limitações de movimentos devido ao esvaziamento. Fui muito acarinhada.
Fiz quimioterapia e foram 30 sessões diárias de radioterapia também de sofrimento, oportunidade para lidar com minhas mazelas e com as de outras pessoas. Aí chegou o natal e tudo acabou. Ficou a experiência, muitos novos amigos e a certeza de que a vida é muito curta e precisa ser bem vivida. Atualmente faço uso diário de medicamento, o arimidex, que afeta muito minha vida diária. Tenho problemas constantes nas articulações, cansaço, preciso fazer exercícios, ter uma alimentação balanceada, fazer exames mensais com oncologista, trimestrais com mastologista e cardio oncologista.
Minha maior dificuldade foi o tempo longe do serviço. Não estava acostumada a não vir diariamente na escola embora tenha trabalhado o tempo todo durante o tratamento.Com relação aos problemas com meu corpo não foi fácil lidar com a queda dos cabelos, o mal estar, enjôos e fadiga.
Tania ChiancaA maior alegria foi o término do tratamento, em dezembro de 2016.
Hoje eu diria para uma mulher que acabou de descobrir a doença que tenha força, coragem e acredite que tudo passa. Fica a experiência que nos torna melhor.
A mensagem que fica é que tudo passa e que temos uma força interior que nos ajuda a superar sempre. Os amigos são valiosos e, nesses momentos, eles se tornam mais preciosos ainda.
O apoio da família e amigos é fundamental, pois por diversas vezes a gente se sente fraco, dependente, triste e perdendo a coragem e são eles que nos apoiam, nos fortalecem e ajudam a recuperar as energias.
As campanhas de Outubro Rosa são muito importantes pois as pessoas esquecem de se cuidar e o câncer é um inimigo silencioso. Mesmo cuidando eles se manifestam e, quanto mais cedo e menor forem identificados, melhor será o prognóstico e menor o sofrimento.
As campanhas também ajudam a reunir os esforços na identificação e tratamento, disponibilizando recursos materiais e humanos para ajudar no diagnóstico daqueles que têm dificuldade de acesso e que precisam de orientações e esclarecimentos. Despertam a consciência e aumentam o conhecimento acerca do problema e o quanto ele pode acometer qualquer pessoa, em qualquer idade, de qualquer classe social e com os mais diferentes níveis de formação.”
Redação: Teresa Cristina– estagiária de Jornalismo
Edição: Rosânia Felipe