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Saúde mental e trabalho é tema de webconferência

O Projeto Telenfermagem da EEUFMG/Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes realizou no dia 4 de outubro a sobre “Saúde mental e trabalho”, com a participação dos municípios de MG cadastrados pelo Programa. A webconferência foi conduzida pela enfermeira Solange Cervinho Bicalho Godoy, professora do Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enfermagem da UFMG.

Ela relatou que desde os primórdios na revolução industrial, problemas com a saúde mental estão relatadas, ou seja, o adoecimento por causa do trabalho em si, seja no local de serviço, ou fora do trabalho. Segundo a professora, pessoas como Georges Friedman, Pierre Naville, Le Guillant, Gillon e Christophe Dejours foram os precursores desses achados na época que estudaram o adoecimento do trabalhador no mundo do trabalho.

Solange explicou que a psicodinâmica do trabalho é um estudo que buscou por meio de evidências científicas descobrir os mecanismos criados por trabalhadores para se protegerem das condições de trabalho reais. “Sofrimento: Espaço intermediário entre um adequado desempenho psíquico e mecanismos de defesa dos trabalhadores; Coletividade: Que se fundamentava na criação de fantasmas que dariam alívio que permitiam transcender o desejo, possibilidade de sublimação em detrimento da realidade; Trabalho prescrito e trabalho real: Para realizar o trabalho pode existir uma sublimação (sentido de arrefecimento de sofrimentos advindos do trabalho), uma conexão subjetiva que liga o imaginário ao trabalho que é feito na realidade (ou também a falta dessa conexão) havendo uma diferença entre a concepção do trabalho prático”.

De acordo com a professora, sob esses pilares, Dejours formulou maneiras de explicar como o trabalhador concilia prescrições do trabalho com o real, sendo essa conciliação mediada pelo fracasso, pois, o saber-fazer se apresenta como ponto de resistência ao sujeito trabalhador. “A qualidade do trabalho é um conjunto de fatores que vai do prazer pelo trabalho até o sofrimento (patológico ou não advindo dele) manifestando-se nos trabalhadores em diferentes intensidades”, explicou Solange.

solange godoy1A professora acrescenta que a psicodinâmica do trabalho apóia-se em conceitos do referencial psicanalítico, revelando forte influência em sua teoria. “Essa base epistemológica tem sido polêmica, uma vez que o próprio Dejours reconhece que a Psicanálise não fez referências ao trabalho e suas consequências patológicas. A Psicanálise seria então provocada a considerar os fenômenos do mundo do trabalho e seus impactos sobre a dinâmica intrapsíquica e a subjetividade. Alguns conceitos fundamentais da psicodinâmica do trabalho apoiam-se claramente nos escritos de Freud”.

Solange pontuou, ainda, que segundo Freud, a atividade psíquica do homem caminha em duas direções: busca pelo prazer e ausência de sofrimento e desprazer. “O prazer estaria relacionado à satisfação de necessidades, tendo em vista as restrições impostas pela sociedade. O sofrimento é caracterizado por sensações não agradáveis provenientes da não satisfação de necessidades”.

Relatou que o sujeito irá articular as formas de como lidar com o sofrimento, de modo singular, em função de seu passado e de sua estrutura de personalidade. Para Solange, prazer e sofrimento são influenciados pela história de vida do sujeito, remetendo a sua infância, suas relações parentais originadas no processo de identificação da criança com a mãe e do medo da perda do objeto amado. “O modo como foi vivenciada esta relação será reproduzido nas escolhas feitas no decorrer da vida do sujeito e, conseqüentemente, em suas relações com o trabalho”, disse.

Solange esclarece que os efeitos negativos e patológicos do trabalho são combatidos pelo trabalhador através da transgressão de algumas regras do trabalho prescrito, mudando o foco do trabalho da psicodinâmica do trabalho de doenças mentais para o sofrimento e as defesas instauradas contra esse sofrimento, ou seja, no âmbito da normalidade o enigma é a busca por equilibrar sofrimento com defesas. Acrescenta, ainda, que Dejours trabalha o conceito Freudiano da sublimação em três níveis: Inteligência prática instaurada pelo trabalho provocando o sujeito para possibilitar a expansão das capacidades dele, que é o desenvolvimento de aptidões necessárias para solucionar o trabalho real, o que implica em suportar o sofrimento transgredindo as normas para alcançar resultados; reconhecimento sobre a atividade do trabalho: Implica na relação do sujeito com o próximo, trabalha-se com alguém ou para alguém, existindo a necessidade da cooperação entre as pessoas e contribuições desse trabalho ao sujeito em direção a cultura e a civilidade.

Segundo a professora, atualmente vivemos o fenômeno da captura do lazer, ou seja, em locais onde se pressupõe estar no momento de lazer, as pessoas executam atividades de trabalho, ao simplesmente acessar o e-mail da empresa, durante um almoço com a família. “Neste momento compreende-se que o trabalho vem absorvendo as pessoas nas horas de descanso”, ressaltou.

A professora esclarece sobre as três categorias da psicodinâmica do trabalho como, a organização de trabalho: divisão de tarefas, modo operatório, divisão de pessoas; as condições de trabalho: ambiente físico, temperatura, irradiação, ambiente biológico, higiene, segurança e as relações de trabalho: relações com chefias, membros de equipe, e demais relações interpessoais.

“O trabalho é importante na vida das pessoas, pois é ali que as pessoas passam maior tempo da sua vida, sendo assim, este  deve ser digno, saudável e proporcionar autonomia, reconhecimento e liberdade”, concluiu.