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IV Simpósio Internacional de Enfermagem em Terapia Intensiva discute as interfaces do enfermeiro na construção da alta performance

Slide1Cerca de 600 enfermeiros, estudantes, educadores e profissionais da área da saúde estiveram reunidos nos dias 12, 13 e 14 de julho, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG, para o “IV Simpósio Internacional de Enfermagem em Terapia Intensiva – Neonatal, Pediátrico e Adulto”, que teve como tema central: “As interfaces do enfermeiro na construção da alta performance em Unidades de Terapia Intensiva”. O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Enfermagem em Terapia Intensiva (ABENTI), em parceria com a Sociedade Mineira de Terapia Intensiva (SOMITI), Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (EEUFMG) e Departamento de Enfermagem da Associação Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB).

A chefe do Departamento de Enfermagem Básica, professora Salete Silqueira, representou a diretoria da EEUFMG na mesa de abertura do evento e parabenizou a Comissão organizadora pela realização do IV Simpósio de Terapia Intensiva. "Os temas discutidos são de grande relevância para os profissionais de saúde e para o meio científico. Este evento consolidou mais ainda a parceria entre EE, Abenti e Sommiti", enfatizou.

De acordo com a presidente da ABENTI e do simpósio, Débora Feijó Vilas Boas, esse evento é de grande importância na questão da enfermagem em terapia intensiva, pois é um momento onde grandes profissionais do Brasil e do mundo estão reunidos e congregando, para conversar sobre terapia intensiva, para contribuir, disseminar e compartilhar esse conhecimento sobre essa área especifica da enfermagem. “É um momento em que cada um traz as suas experiências, o seu conhecimento, de forma que consigamos refletir sobre a nossa prática. O que nós, dentro da ABENTI, estamos mais preocupados realmente é esse papel do enfermeiro como defensor do paciente, do que nós estamos fazendo na nossa prática, que vai contribuir para o desfecho dele, mas não apenas em um desfecho de vida e não morte, mas sim um desfecho de qualidade de vida, com melhores condições. E tornar essa experiência o menos traumática para o paciente e para a sua família”, destacou.

Ela também declarou que a enfermagem em terapia intensiva agrega muito para a saúde e que os métodos e tecnologias desenvolvidos nessa área têm evoluído bastante. “Estamos em um período que evoluímos, e o nosso paciente da terapia intensiva já é um paciente que sobrevive mais tempo, temos pessoas de 90 a 100 anos, hoje em dia é muito mais comum nós vermos isso. E a nossa preocupação justamente é a de tirar aquele paciente que tenha condições de sobrevida do momento de crise, do momento da gravidade dele, para um momento que ele esteja mais estável, porém, de uma forma que ele tenha condições melhores de vida, qualidade de vida”.

Débora Feijó, em nome do simpósio, também promoveu uma homenagem à professora aposentada do Departamento de Enfermagem Aplicada e coordenadora da área de concentração Enfermagem em Terapia Intensiva do Curso de Especialização em Assistência de Enfermagem de Média e Alta Complexidade (CEAEMAC/ENB/EEUFMG), Anadias Trajano Camargos, enfermeira precurssora em Minas Gerais, pelos seus anos de trabalho na terapia intensiva. “A homenagem à professora Anadias foi uma das melhores partes do evento. Podermos homenagear uma pessoa que foi pioneira na área da terapia intensiva não tem preço. Ela teve uma carreira maravilhosa, foi e continua sendo, um exemplo para todos nós. É muito bom a gente acarinhar as pessoas e cumprimentar por tudo que elas fizeram e contribuíram”, conclui Débora.
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A professora Anadias agradeceu a homenagem. "Agradeço comissão organizadora deste evento por lembrar do meu nome para ser homenageada neste dia. Fui uma das primeiras enfermeiras selecionadas para trabalhar no CTI do Hospital das Clínicas da UFMG. Em maio de 1969 começamos o treinamento, no dia 1º de julho fui admitida e nesse momento começamos a receber os pacientes de transplante renal. Cuidem bem dos pacientes porque muitas vezes respondemos por eles. Tratem com amor", enfatizou.

Gestão da qualidade na construção da alta performance
Mara Márcia Machado, diretora executiva da instituição acreditadora em saúde IQG (Health Services Accreditation) e da Accreditation Canada no Brasi abordou sobre o reposicionamento dos serviços de enfermagem dentro das instituições de saúde brasileiras. Segundo ela, o IQG junto com o movimento internacional Nursing Now, estão fazendo uma grande discussão sobre como será reposicionar os serviços de enfermagem e para isso estão trazendo uma certificação dos serviços de enfermagem, com a finalidade não de certificar a enfermagem, mas sim o serviço dentro da estratégia organizacional.

“Esse é um movimento internacional e nós temos até 2020 para poder fazer o grande reposicionamento dos enfermeiros dentro do sistema de saúde brasileiro. Hoje a nossa maior discussão é como nós vamos incorporar essa força de trabalho que, atualmente, é 60% do grupo de trabalho dentro de uma estratégia para a sustentabilidade desse sistema. Nós temos dois grandes trabalhos a serem desenvolvidos: primeiro, preparar a enfermagem para esse novo momento; e o segundo é como nós vamos trazer isso como uma transformação de sustentabilidade nas instituições de saúde no Brasil”, explicou.

Ela também falou que esse simpósio agrega muito para essa discussão do reposicionamento dos enfermeiros, pois através dele começa a se criar uma massa crítica sobre o assunto. “De uma forma geral, os simpósios e congressos de enfermagem são para discutir questões técnicas muito focadas ao trabalho da enfermagem, boa parte se discute a técnica e boa parte se lamenta pelo que não se faz. E esse simpósio está trazendo um novo olhar, que é o despertar para uma discussão e criar uma massa crítica, a enfermagem precisa disso para poder se reposicionar”.
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Luciana Valverde Vieira Delfim Barros, professora da IEC PUC Minas, falou sobre a geração de fluxo de valor a beira leito do paciente a partir das acreditações e dos processos de qualidade. De acordo com ela, é muito importante considerar que, no cenário atual, há algumas inversões de entendimento das pessoas em relação ao que é valor para o paciente e como se agrega esse valor durante a experiência dele dentro do hospital.

“Um dos pontos que a gente parte inicialmente é a questão do mapeamento de processo e do modelo de gestão. O mapeamento de processo é uma metodologia que nos garante mapear todas as relações cliente/fornecedores para que consiga entregar uma assistência de qualidade segura para o paciente dentro da terapia intensiva. Nesse contexto, nós precisamos ter um modelo de gestão centrado no paciente e na família, porque, se o foco de toda equipe e de toda instituição de saúde for o paciente e família, nós vamos ter os melhores processos desenhados, com acordos tangíveis e acordos que vão otimizar e gerar eficiência e valor agregado ao paciente. Por exemplo, se eu tenho um paciente na UTI que precisa fazer uma tomografia, quando eu não tenho esse processo mapeado e não tenho um acordo com o setor de tomografia do tempo máximo que esse paciente pode esperar por essa ela, nós corremos um risco sério desse paciente ficar de 2 a 3 dias esquecido sem a tomografia. Quando eu tenho um acordo feito que a tomografia tem que ser feita com 12 horas, no máximo 24 horas, eu tenho uma relação com o meu cliente/fornecedor, onde o exame é feito dentro do tempo que o paciente precisa do retorno para dar condições de ter terapêutica completa e correta”, explicou Luciana.

A professora também destacou que a questão do desenho de processo é muito importante dentro desse contexto. “Nós também podemos acrescentar um ponto importante que é a experiência do paciente. Para um paciente ter uma boa experiência é preciso ter protocolos de dor, de delírios, sedação, porque a experiência traduz tudo que foi vivenciado pelo paciente durante a internação”, completou.

A vivência na terapia intensiva sob a ótica do enfermeiro
A professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Juliana de Oliveira Marcatto, abordou sobre a essência do cuidado e trouxe para a discussão sobre qual é o lugar que o enfermeiro ocupa e o seu foco de atenção. “Percebemos que há um desafio. Ao mesmo tempo em que a ciência caminha e que a enfermagem como ciência do cuidado evolui em muitos aspectos, nós também temos corrido riscos, porque imersos nessa densidade, nesse ambiente denso, nós precisamos enxergar as pessoas. Isso tem sido um exercício, de usar a tecnologia ao nosso favor como ferramenta, mas de não perder a certeza e a convicção de que o nosso objeto primeiro são as pessoas. Nós somos ‘Gente cuidando de Gente’ é algo que eu costumo dizer nas minhas aulas”.

Slide3Juliana também explicou que a essência do cuidar é olhar o individuo naquilo que ele tem de único, de característico, especifico, a respeito de estar dentro de uma instituição que tem protocolos, que tem fluxos de trabalho e assistência bem estabelecidos. “É necessário entender que estamos lidando com pessoas e elas não podem ser destituídas da história delas, porque estiveram internadas ou porque estão submetidas a cuidado especifico de alta complexidade. Não é o leito, não é a patologia, não é o procedimento, é um individuo, que tem uma história que não é vazio e que ele vai passar por ali e é importantíssimo que nós marquemos a vida das pessoas de uma forma positiva. Não só pela competência técnica, mas também pela competência emocional, pelo acolhimento, pela empatia que a gente tem nessas pessoas”.

A professora destacou, ainda, que o simpósio traz uma interlocução muito importante entre a a universidade com a ponta, onde é feito o trabalho prático. “Essa interlocução é fundamental. Nós precisamos criar pontes e não abismos. E nós sabemos que a academia nas práticas assistênciais é fundamental, quem está na ponta enxerga os problemas, lida com eles, tem desafios, e a gente precisa investigar, tratar”, concluiu.

Widlani Sousa Montenegro, membro da diretoria executiva da ABENTI, falou sobre a “Síndrome pós terapia intensiva (PICS)”, um problema que tem atingido os pacientes que tem passado pelas Unidades de Terapia Intensiva. “Por muito tempo nós imaginamos que o principal resultado da UTI era o paciente sair vivo e com o tempo nós temos observado que o doente sai da UTI, porém ele sai com muitas complicações, e trouxemos uma abordagem de como eu estou devolvendo esse doente para a vida dele. Ele consegue voltar ao trabalho? Consegue uma vida feliz com a família? Como é essa abordagem hoje? Os estudos mostram e temos desenvolvido um trabalho importante nesse aspecto que é o que chamamos de ambulatório de terapia intensiva ”, relatou.

Ela também explicou que o estudo da enfermagem em terapia intensiva busca é a resposta de como prevenir a PICS. Segundo ela, ainda não há nada definido, mas existem vários indícios que sugerem como esse paciente pode evitar que ele tenha essa síndrome.

“Existem alguns desafios já bem fechados como: diminuir tempo de ventilação mecânica, diminuir sedação e diminuir delírio, que são coisas que já fechados que aumentam essas complicações. Mas, por exemplo, que é um desafio para a UTI é um acompanhante 24 horas estando do lado, um familiar, não um cuidador, mas sim uma pessoa que o motive que o diminua a ter ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, só para ter noção, o estresse pós-traumático de uma pessoa que passou por uma UTI é comparado a uma pessoa que foi um soldado que teve um estresse pós-guerra. Então deixar o paciente perto da família, deixá-lo tendo noção de dia, de noite, deixar esse paciente fazendo um registro todos os dia, ter um diário que ele leve para casa e que ele consiga associar a aquela lembrança, a aquele momento, são medidas preventivas que no momento a literatura tem como resposta”, declarou Widlani.

Novas tecnologias
A professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Eline Lima Borges, falou sobre as novas tecnologias no cuidado com a pele de paciente crítico. Segundo ela, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um local que apresenta diversos desafios porque recebe pacientes de alto risco para desenvolvimento de lesão cutânea que demandam intervenções específicas e complexas.

Slide5Eline destacou que os preditores de lesão por pressão para pacientes de UTI Cirúrgicos são: história da doença vascular, uso de Dopamina (5 mcg/kg/min), hemodiálise intermitente e ventilação mecânica.

A Portaria Nº 529 de 1º de abril de 2013 do Ministério da Saúde também foi destacada pela professora. "O objetivo é contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional, promovendo melhorias relativas à segurança do paciente, de forma a prevenir e reduzir a incidência de eventos adversos no atendimento e internação", enfatizou. E um dos eventos adversos a ser evitados é a lesão por pressão que tem relação direta com os cuidados com a pele. Além deste tipo de lesão, é comum na UTI o surgimento da lesão por fricção, lesão relacionada a adesivo médico e ferida cirúrgica complexa.

No que diz respeito às práticas seguras para prevenção de lesão por pressão e demais lesão, Eline pontuou: realização de avaliação de risco de todos os pacientes antes e durante a internação; realização de avaliação da pele pelo menos 1x/dia, e pelo menos 2x/dia nas regiões submetidas à pressão por dispositivos médicos; manutenção da higiene corporal, mantendo a pele limpa e seca; hidratação diária da pele com hidratantes e umectantes; uso de barreiras protetoras da umidade excessiva, quando necessário, como, por exemplo: creme barreira, película semipermeável, espuma de poliuretano e da família na prevenção e tratamento das lesões por pressão.

Estas recomendações estão ampararas em evidências científicas e visam melhorar a resistência da pele e reduzir a pressão. Elas constam em diversos documentos nacionais e internacionais, inclusive no documento da Anvisa.

Segundo a professora, a Escala de Braden foi desenvolvida em 1987 como recurso para otimizar a adoção de estratégias de prevenção e diminuir a incidência de lesão por pressão e utiliza os parâmetros da fisiopatologia desta lesão, principalmente os 2 determinantes mais importantes: tolerância tecidual e intensidade e duração da pressão.
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Sobre os curativos de proteção a professora disse que é necessário avaliar sinais de lesão por pressão pelo menos 1X/dia, e confirmar a adequação do atual regime de aplicação dos curativos. "Curativos de proteção não anulam a necessidade de avaliação rigorosa e regular da pele. Para facilitar avaliações regulares da pele: curativo com bordas de silicone - fáceis de levantar para avaliação da pele sem provocar outras lesões cutâneas", enfatizou.