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Nova rotulagem nutricional de alimentos para o Brasil é discutida em seminário

Cerca de 100 alunos e profissionais da área da saúde participaram, na última sexta-feira, 29 de junho, no auditório Maria Sinno da Escola de Enfermagem da UFMG, do seminário sobre “Nova Rotulagem Nutricional de Alimentos para o Brasil”. Foi ministrado pelo professor do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG e coordenador do evento, Rafael Moreira Claro; pela pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição em Saúde (NUPENS/USP), Ana Paula Bortoletto Martins e pela Desirée Ruas, jornalista, educadora do consumo e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo (REBRINC) e do movimento BH pela Infância.

RCeventoA diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, professora Eliane Marina Palhares Guimarães, esteve presente na abertura do evento e falou sobre a importância de discutir sobre uma nova rotulagem. “Há uma grande dificuldade de compreensão das informações contidas nos rótulos dos produtos, principalmente para a população leiga. Às vezes é difícil para a população compreender o que é um produto light, ou diet, ou com baixo teor, ou rico em nutrientes. Por isso é de extrema a importância essa nova rotulagem, para melhor informação do público consumidor”, destacou a diretora.

De acordo com o professor Rafael, o evento se volta discutiu a respeito da adoção de um novo modelo para rotulagem dos alimentos no Brasil. “Nós sabemos que o modelo atual que é composto essencialmente pela tabela de informações nutricionais e pela lista de ingredientes no verso não orienta o consumidor a tomar boas decisões, de tal maneira que signos mais claros como, por exemplo, advertências frontais são necessárias. O que a gente sabe hoje é que muitas vezes o consumidor está comprando alimento não saudável pensando que está levando algo bom para sua família. Nossa ideia então é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) reveja esse modelo atual para que isso seja mais claro”, explicou.

Durante a palestra, Rafael trouxe dados estatísticos a respeito da evolução do estado nutricional e do consumo alimentar no Brasil e no município de Belo Horizonte. Segundo ele, no Brasil são 73.698.864 adultos com excesso de peso e 25.511.145 adultos obesos; e em Belo Horizonte são 958.468 adultos com excesso de peso, 307.707 adultos obesos e 477.410 adultos com hipertensão. “Esses são dados oriundos do VIGITEL do ano de 2017, que mostram que a obesidade continua crescendo no município de Belo Horizonte. Mas temos também algumas boas notícias, o consumo de frutas e hortaliças no município está melhorando e o consumo de refrigerantes e de sucos artificiais está diminuindo”, declarou.

Ele também destacou que a ideia dos novos modelos é que adicione não somente advertências nutricionais frontais no pacote avisando quando o produto tem alto teor de açúcar, gorduras ou sódio, mas que também, em longo prazo, seja proibido ou restrito o uso de publicidade abusiva nos pacotes de alimentos, como, por exemplo, de personagens de desenhos, de componentes com apelo infantil, justamente para que esses alimentos que são prejudiciais à saúde não tenham um apelo comercial tão grande como tem hoje.

“A questão da obesidade é extremamente problemática, porque ela não só é uma doença, mas também constitui um importante fator de risco para várias outras doenças. Então o individuo que está com o peso acima do nível ideal, tem mais chance de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, e até certos tipo de câncer. Quanto mais cedo nós conseguirmos combater o problema, mais saúde garantimos para a população”, elucidou Rafael.
O professor relatou, ainda, que é de extrema importância esse tipo de palestra para estudantes e profissionais da área da saúde e comunicação. “A ANVISA está realizando até dia 9 de julho uma tomada técnica de subsídio para o novo modelo de rotulageme quer ouvir de profissionais interessados sugestões de como deve ser o novo modelo. Esse evento encaixa justo nessa questão que a ideia é prover subsídios para que as pessoas possam se inteirar melhor do tema, e estimulá-los a comparecer nessa tomada técnica e enviar contribuições”.

A pesquisadora do IDEC, Ana Paula Bortoletto Martins, apresentou em sua palestra o processo de revisão das normas de rotulagem nutricional no Brasil que está sendo realizado pela ANVISA e contou um pouco do histórico e do trabalho que o IDEC desenvolveu em relação à pesquisa, a comunicação e as ações de advocace para defender um modelo que melhor contribuísse para os objetivos de promover uma alimentação saudável e a favor da saúde pública.

“Esse modelo que foi proposto pelo IDEC busca trazer na frente da embalagem a informação sobre o conteúdo de nutrientes que tem alguma associação com alguns tipos de doenças como as doenças crônicas, que são as que estão mais aumentando, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Dessa forma, pensamos em uma advertência, no formato de um triângulo preto, com uma borda branca em volta, que identifique a quantidade de alta de açúcar, sódio, gordura saturada, gordura total, a presença de gordura trans e a presença de adoçante em um determinado produto. Essa mensagem clara vai facilitar o consumidor a fazer escolhas mais saudáveis. É um modelo que o Chile adotou com sucesso, já temos resultados positivos de como a lei está ajudando as pessoas a mudarem seus hábitos alimentares lá, e nós queremos fazer o mesmo aqui no Brasil”, explicou.

Mesa RCSegundo Ana Paula, para desenvolver essa abordagem, primeiro eles tiveram um trabalho de contato e reuniões com pesquisadores da área de Design da Informação da Universidade Federal do Paraná, que fizeram esse estudo de quais seriam as soluções gráficas para ter a informação na frente da embalagem, em relação a formato, cor, localização, tipografia e que fosse mais efetivo para transmitir a mensagem.

“Logo depois, partimos para um estudo que foi feito tanto qualitativo, quanto quantitativo. Primeiro qualitativo para validar o modelo do triângulo, observar se as pessoas entendiam, visualizavam e compreendiam as informações. E depois, no quantitativo, nós comparamos o modelo do triângulo com o modelo do Chile e com outro modelo que é o do semáforo nutricional, que foi apresentado pelas próprias indústrias de alimentos para a ANVISA. Desse modo, queríamos mostrar o quanto nosso modelo de fato ajudava as pessoas a entender a informação, não apenas ter a opinião sobre o rótulo, mas sim de identificar corretamente a presença de conteúdo alto de açúcar, gordura, etc”.

Ela explicou que a há uma expectativa de concluir a revisão da norma até 2018 e o prazo de adequação das empresas vai depender do acordo que a ANVISA fizer com o setor produtivo. “Nós esperamos que seja o menor possível, que seja dentro de um ano no máximo que as empresas se adéquem para garantir o direito a informação da população”, concluiu.

A nova rotulagem na nutrição infantil
A integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo (REBRINC) e do movimento BH pela Infância, Desirée Ruas, destacou que é importante pensar na questão da infância nesse contexto dos alimentos ultraprocessados, já que há um número muito grande de crianças com obesidade e com sobrepeso. “A comunicação dirigida à criança precisa realmente de limites, de regras que nos ajudem a combater esses malefícios para a saúde das crianças. Essas mudanças da rotulagem nutricional vêm para ajudar as famílias a fazerem escolhas mais saudáveis e isso irá repercutir na questão de mais saúde para as crianças”.

Desirée falou que, possivelmente, no futuro a abordagem que será feita pelos rótulos alimentares se parecerá com as abordagens feitas pela indústria tabagista, pois no inicio de sua publicidade, entre os anos 1920 aos 1980, existiam comercias de cigarros bem chamativos e alguns produtos bem atrativos até para as crianças, como citado por ela, os cigarrinhos de brinquedos dos anos 80, e ambos, tanto o cigarro, quanto os alimentos ultraprocessados, trazem malefícios a saúde.

“Isso nos mostra que não dá para aceitarmos a divulgação da forma que é feita hoje, desses alimentos que são prejudiciais à saúde, com todos esses artifícios, como a questão dos personagens que são estampados nas embalagens. Isso traz um vínculo afetivo da criança com o personagem que é muito grande, e a indústria coloca isso no alimento que não é saudável. Estamos caminhando exatamente para isso, para ver a publicidade de alimentos como hoje a gente já consegue ver a publicidade de cigarros que foi um dia”.

A pesquisadora destacou que é importantíssimo que os alunos da nutrição, já durante o curso, comecem a ter um espírito crítico de pensar em como há conflitos de interesses também que estão por trás, de empresas que ficam tentando pressionar para que governos e as políticas públicas não sejam de fato para a saúde pública, mas que sejam modificados para atender a interesses comerciais.

“É importante falar dessa mudança de perspectiva quando a gente fala que os alertas na rotulagem frontal vão trazer duas questões importantes: primeiro, das pessoas fazerem comparações desses produtos, escolhendo o que tenha menos nutrientes negativos; e segundo, principalmente da gente combater o consumo excessivo de ultraprocessados que é muito sério, a gente tem que realmente ir para aquilo que o guia alimentar para a população brasileira define que é uma alimentação com mais alimentos in natura e minimamente processados e deixar os ultraprocessados para consumir apenas raramente”.